Há um país submerso nas pesquisas eleitorais, que poucos conseguem ver e ouvir, mas que emerge no percentual de favoritismo do candidato-presidente.
Lula é o meu maior engano das últimas 3 décadas e disto eu não tenho dúvidas. Mas seu mandato serviu para jogar na cara do Brasil fictício, um Brasil real. A classe média vacilante vai pagar para aprender que o aliado não é o que está lá em cima, nos 2% da população brasileira que ganha acima de 20 salários mínimos, e parte dela tem tido sua exigências plenamente satisfeitas por este governo. Basta observar os lucros escorchantes do sistema financeiro neste 4 anos.
Aliás, esta é outra brincadeira. Entre os 2% de brasileiros que ganham acima de 20 salários mínimos estou eu e a família Setúbal, dona do Banco Itaú, e o Antonio Ermírio de Moraes, e os proprietários do Bradesco e o presidente da Cia. Vale do Rio Doce! Somos todos irmãos no pastiche nacional!
Mas, voltando ao que as pesquisas revelam, é que há um Brasil com fome, sedento por condições elementares de vida e ao que os programas sociais do governo Lula responderam. E isto permite ao candidato-presidente assumir seu discurso messiânico - que hoje eu já reputo de cínico. Mas, para os deserdados da cidadania não faz maior sentido como critério de julgamento privilegiar a falta de ética e/ou a roubalheira, que na verdade sempre foram convalidadas na ação política brasileira - e que o PT consolidou e qualificou como estratégia - o que choca mais pela história do partido do que pelos atos de esbulho ao patrimônio público, afinal tão corriqueiros nos mais de 100 anos de república.
Eu me engano na perspectiva de que meu não-voto me alivia a culpa pelo engodo. E apenas isto me faz dormir melhor. Não tenho expectativa melhor do que esta - dormir -neste momento. Mas me lembro de Ferreira Gullar e de parte do seu poema:
(...) O certo é que nesta jaula há os que têm e os que não têm
há os que têm tanto que sozinhos poderiam alimentar a cidade
e os que não têm nem para o almoço de hoje .
A estrela mente, o mar sofisma.
De fato, o homem está preso à vida e precisa viver
o homem tem fome e precisa comer
o homem tem filhos e precisa criá-los
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.
(No mundo há muitas armadilhas)