" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

06
Set 06
Ai, que me cansa a dança da minha aflição de viver e de acordar pela manhã e, às vezes, até de respirar!
 
Poderíamos ter nascido com mecanismos simples de hibernação sem dor. É certo que aqui  não há neve, como a que acolhe os ursos, mas há rios e igarapés, de águas dóceis e frias, capazes de abrigar qualquer vivente que precise de descanso, silêncio e paz.
 
Em dias como hoje, sinto vontade de colo. O colo do pai. Que com o colo dava o afago das mãos e das palavras. Palavras que amenizavam o baque fosse ele do corpo ou da alma. O joelho esfolado doía menos e a alma ferida encontrava acolhimento.
 
Escrevendo agora percebo que meu desejo cifrado é hibernar no colo do pai. Como se ele, ressuscitado, pudesse curar com as mãos esta aflição de eu não querer ir a lugar algum, de não ter vontade de falar com ninguém – e falar é meu ofício!!! – ou de salvaguardar objetivos, fantasia, ações, projetos, seja lá o que for.
 
A música da cabeça hoje já indicava este mal estar. Eu não queria ouvi-la. A música acordou comigo, me impôs na cabeça um incomodo fundo musical e diz:
 
“... ai, meu amor para sempre nunca me conceda descansar. Pai, o tempo vai virar, meu pai, deixa me carregar o vento ..”
 
A música é do Chico, para o filme A ostra e o vento.
 
publicado por Adelina Braglia às 18:38

 No Brasil, milhares de pessoas permanecem presas, sem julgamento, alguns até com a provável pena já cumprida ou extinta. Outros, estão presos por engano.

No Brasil, parlamentares cujo envolvimento em esquemas escabrosos de corrupção, estelionato e crime organizado, sem contar aqueles cujo patrimônio pessoal não se explica sob nenhuma hipótese, são candidatos à reeleição, e têm a garantia do Tribunal Superior de que ninguém terá sua candidatura suspensa até a sentença definitva, além de terem a proteção de foros privilegiados para julgamento.
No Brasil, transitam alguns dos homens mais ricos do mundo e alguns dos mais miseráveis do planeta.
No Brasil, a péssima qualidade do ensino - e não só do ensino público - induz jovens a concluírem o ensino médio semi-analfabetos. Se não "das letras", com certeza "do pensamento". Na escola não se promove a independência do saber, não se cultiva a formação de opinião. Ou seja, não se forma cidadãos.
No Brasil, praticamente a mesma proporção de pessoas sem abastecimento de água tratada, e/ou sem orientação  para o destino de dejetos e do lixo, vive subalimentada. Seus filhos crescerão com deficiências múltiplas, físicas e mentais, porque científicamente está comprovado que os danos causados à formação geral, em crianças com subnutrição até os 4 anos de idade, são insanáveis e irreversíveis. A fome é a causa do atraso escolar, da baixa capacidade de compreensão, além do retardamento do crescimento, da ocorrência da cegueira, etc.
E ouço o candidato a presidente dizer que no seu próximo mandato todas as cidades polo do país terão escolas técnicas e universidades.
E ouço a candidata ao governo local, do mesmo partido do presidente, dizer que no seu mandato todas as famílias terão água tratada, meta inalcançável mesmo em 3  mandatos de governos que tenham efetivamente compromisso com a saúde e o saneamento.
No Brasil há pessoas que gostariam muito de acreditar que foram capazes de fazer a diferença para um país melhor. Eu era uma delas.
Meu aprendizado para a humildade, para a aceitação de que não fiz diferença alguma,  tem tido um preço muito, muito alto. E este preço é medido diariamente pela desesperança. Uma palavra dúbia, pois entre o des-esperar e a falta de esperança, há um perigoso vácuo que se chama desalento.

 

publicado por Adelina Braglia às 11:38

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