Eu não sei responder perguntas cruciais
sobre a minha vida.
Há gestos que me comovem,
há palavras, ou a ausência delas,
que me trazem insegurança e desconforto.
Há pessoas de quem gosto incondicionalmente,
outras a quem suporto,
umas que me são indiferentes
e outras a quem detesto.
Convivo com todas elas.
E gostaria sempre de ter bons motivos para isto.
Mas nem sempre os tenho.
Transito por lugares onde alguns me são agradáveis,
uns, detestáveis,
e outros, desconfortáveis, mas se é necessário estar neles,
supero a dificuldade.
Se o faço, ou é por dever de ofício, ou pelo prazer da companhia.
Esta resposta é simples.
Não tenho mais esperanças, daquelas que a juventude fazia florescer
e que apresentavam-se com uma insana viabilidade.
Mas tenho expectativas, quase todas irrealisáveis,
o que parece ser a mesma coisa,
apenas dita de forma menos infantil.
Ou não.
Ainda me apego à música
- talvez a única coisa permanente em minha vida -
e continuo a sentir comiseração pelo sofrimento alheio.
Ainda me angustia saber que nascer neste país é loteria,
que para alguns jamais haverá alternativas,
e que sou privilegiada entre os demais.
Resposta fácil.
Hoje, ao acordar, senti uma enorme saudade do meu pai,
medi o tamanho do vazio da ausência das minhas fantasias de adolescência
e dos meus sonhos de juventude
e tive a certeza de que não são substituíveis.
Resposta difícil.