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Tirei a foto porque fiquei impressionada com a beleza do reflexo da junção das tábuas do cais nas águas do rio.
É pena que eu não saiba como a foto pode ficar maior do que aparece, o que facilitaria ver como é linda a difusão do sol entre as frinchas do taboado. O que me fez ir buscá-la no arquivo foi a sensação do gosto amargo na boca, que desde ontem me acompanha, e que foi a razão do post anterior, e que dormiu e acordou comigo, coisa não muito rara, convenhamos, para quem acha que sentir as dores do mundo é um "generoso" contraponto à própria dificuldade de resolver as suas.
Talvez seja a proximidade da Copa do Mundo!!!!! e do anseio nacional do Brasil hexa!!! hexa!!! hexa!!!! que irrita meus ouvidos e meu coração. Não, não tenho nada contra o futebol, assim como nada tenho a favor. Para mim é um esporte qualquer e não me comove a disputa, pois sermos a "pátria de chuteiras" - não sei se a expressão é do Vinícius de Morais (*) - não me anima, já que em outras disputas o placar sempre nos coloca fora do camponato mundial: torneios da justiça, educação, saúde, trabalho, etc. etc. etc.
Mas, sim, a foto. Junto com ela há um fundo musical, aqui na cabeça, a canção Navegante, cantada por Zé Renato e pelo Trinadus, e tudo isto acabou me levando a fantasiar um país cujas tábuas de sustentação estão indelevelmente soltas uma da outra, unidas por uma falsa sensação de que somos uma nação e que a visão real só se dá pelo avesso.
Tá de bom tamanho pra uma quinta-feira.
Fui.
(*) corrigindo, hoje, 14.06, a frase é de Nelson Rodrigues.
A revista Agulha - link aí ao lado - editou uma matéria sobre Nelson Rodrigues, esta que dá título ao post (http://www.secrel.com.br/jpoesia/ag51antunes.htm).
Coincidentemente, há poucos dias, comentávamos entre amigos a crueza das crônicas de Nelson, então publicadas nos jornais, nas décadas de 60, 70. A vida como ela é, era o título da sua coluna diária nos jornais de São Paulo.
Eu, na minha pouca idade, imaginava ser aquilo pura ficção! Não concebia que a tal da vida pudesse ser povoada de prostitutas, cafetões, mulheres infelizes e mal amadas, homens precisando permanentemente exercer seu poder sobre amantes, esposas, mães e irmãs.
Nelson dizia que mulher gostava de apanhar e eu achava isso terrível. Chauvinista, era o rótulo do momento. Porco chauvinista, aliás, era como o chamávamos no circuito da escola secundária!
Revendo Nelson Rodrigues hoje, concordo que a vida é como ela é.
Piégas, isso. Também concordo. Mas, revolveu alguma coisa aqui por dentro, que não identifico bem.
"Expulsos de área homologada, grupo de 180 índios convive com o medo, acampado às margens de rodovia em MS
Os cerca de 180 índios da primeira aldeia guarani-caiová homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Mato Grosso do Sul, em 2005, vivem desde dezembro acampados nas margens da Rodovia MS-384, que liga as cidades de Antônio João e Bela Vista.
Eles foram expulsos da aldeia quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou sua regularização, mesmo depois da assinatura do presidente. Hoje, convivem com o medo da violência, decorrente do conflito pela terra com os fazendeiros, o risco de atropelamentos e a poeira deixada pelos mais de 300 caminhões que passam dia e noite pelo local.(...)"
Ricardo Brandt
(http://www.estado.com.br/editorias/2006/06/04/pol-1.93.11.20060604.3.1.xml)
E dá pra ver a pontinha da pena do tererê! E para a avó este domingo também esteve envolto em paz, em realização de desejos e de prazeres conquistados!
E a pontinha da pena vermelha do tererê é o meu troféu!
Aqui está você.
Face ao nosso combinado de irmos à praça pela manhã, você veio dormir no meu quarto, com certeza para não perder o despertar, pois combinamos sair cedo, a fim de evitarmos o sol forte desse começo de verão.
Combinamos que amanhã - hoje, daqui a pouco - você fará um tererê nos cabelos, igual ao meu. Só que o meu é azul e você já definiu que o seu será...vermelho! Vermelho, uma cor que fascina você desde que começou a entender de cores! E a ansiedade de ir à praça e fazer o tererê, colocou você a dormir mais cedo, pro domingo chegar mais rápido!
Quase tudo a fascina, na proximidade dos seus 5 anos. Algumas coisas ainda a incomodam, como por exemplo, fazer aniversário no mesmo dia que eu
É, Bia, essa foi difícil explicar. A avó tão grande, nascendo no mesmo dia que você! Tá certo que não fui muito brilhante nesse assunto, querendo que você tivesse o entendimento de que nascer no mesmo dia não é nascer para a vida ao mesmo tempo. E enquanto fala - e fala o tempo todo! - rodopia, dança, os olhos brilham, as mãozinhas se agitam , os pés não param quietos.
Mas, desde que você decidiu que a sua festa seria a das princesas e que a minha teria que ser de outro personagem, parece que já começa a compreender que nascemos no mesmo dia mas que não nascemos juntas!
Dorme, princesa, que amanhã iremos à praça, para você colocar um lindo tererê vermelho nos seus cabelos e, certamente, depois disso, o mundo ficará em paz por uns....cinco minutos, até você descobrir um novo desejo.
Cuida bem dos seus desejos, Bia, cuida bem.
Beijo.