" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

03
Jun 06
Almoçar em boa companhia faz bem. Assim como beber em má companhia é o mais rápido caminho para uma terrível ressaca no dia seguinte.
Almoçar com gente inteligente, afável, carinhosa, e que ainda nos brinda, como sobremesa, com uma boa conversa sobre o preconceito, geral e específico. Nosso, da sociedade brasileira. E nosso, também, que estávamos ali consertando o mundo.
Preconceito que vai desde a homofobia, que se acirra no velado ou explícito racismo e culmina no furor do combate, quando o alvo é o atual presidente.
É verdade. O combate a Lula não é centrado nos seus notórios erros. Seu crime mais grave é ser chinfrim, iletrado, baixinho e nordestino. E isso sufoca nossa elite, que verbo-reage, que vive insone pela possível vitória na eleição de outubro, e nos azucrina através dos seus lídimos representantes.
Taí, coração.
Foi bom o almoço. Foi bom o carinho. Foi muito boa a sobremesa.
publicado por Adelina Braglia às 16:15

Pois é. Foi esse o verso que amanheceu comigo e como não me lembrava dos demais, fui em busca da poesia completa. A brusca poesia da mulher amada III, Vinícius de Moraes.

Auroras nascituras! Só mesmo um grande poeta para fazer palavra tão feia - nascituras! - encher-se de beleza e significado para além do concreto sentido.

Mas, eu aqui fico tentando entender porque raios acordo com um verso na cabeça que não faz, de imediato, sentido algum. Ao ir buscar o poema completo, começo a perceber que essa amanhecida sensação de querer alvoroçar-me com as auroras nascituras tem a ver com as conversas de ontem a noite, com a irmã e a amiga, no bar onde a música perturbava bastante, mas que uma mesa debaixo das árvores e um pouco afastada da dupla cantora, nos permitia filosofar e rir sobre perdas e danos!

Tem a ver também com a clareza dos últimos dias de que meu desejo é aprender a só ser, como disse nosso péssimo ministro da cultura e grande compositor, Gilberto Gil. E, mais do que com o verso bombástico com que abro o post, parece que as auroras nascituras vão me chegar, se eu deixar de pedir permanentemente que

Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido
herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a
bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco
quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as
confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas

pois já estou suficientemente crescida - nos dois sentidos, cá no meu quase metro e oitenta! - para  saber

que carrego cicatrizes que mesmo se afagadas serão sempre cicatrizes,

que minha irmã e o mundo sabem que jamais fui heroina sem máculas e a meia dúzia de três ou quatro pessoas que me amam convivem muito bem com isso,

que meu irmão verifica tudo isto quando, ao telefone, com voz amorosa, diz " se cuida, irmã",

que os quilos a perder estão sendo perdidos sem sofrimento,

que os vendedores de cor e beleza estão por aí se eu os quiser,

que amigos fiéis eu os tenho, com uma fidelidade tão canina que os faz relevarem minhas idiossincrasias

e que hoje, o fantástico papel almaço e as esferográficas BIC, estão aqui, travestidos em tela e mouse, embora não com o mesmo sabor.

E que, voltando ao grande Vinícius,

..." Porque hoje é Sábado,

desejarei escrever novamente o poema sobre o dia de hoje,

sentindo a antiga perplexidade diante da palavra escrita em poesia

e como dantes, levantar-me com medo da coisa escrita

e ir olhar-me ao espelho para ver se eu era eu mesmo..."

 

publicado por Adelina Braglia às 08:56

Junho 2006
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

15

23

25
26
27
28
30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO