Organizando as fotos da última viagem, topei com esta. Imediatamente Cazuza começou a cantar dentro da minha cabeça o seu Blues da piedade!
Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêncio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
(Cazuza e Roberto Frejat)
"Combate ao racismo a curto prazo exige investimento de R$ 67,2 bilhões
Para acabar com a discriminação racial estrutural, o Brasil precisa investir R$ 67,2 bilhões. O dado é um dos vários destacados pelo Instituto Ethos no manual "O Compromisso das empresas com a promoção da igualdade racial". A publicação lançada hoje em São Paulo marca a entrada da organização no debate específico do combate à discriminação por raça.
O cálculo foi realizado pelo economista e pesquisador da UnB (Universidade de Brasília) Mário Theodoro, e considera o custo para igualar os níveis de acesso em educação, habitação e saneamento das populações negra e branca.
De acordo com o levantamento, concluído em novembro, a questão da habitação demandaria o maior investimento, algo em torno de R$ 37,4 bilhões. Isso apenas para igualar o déficit de moradias, que entre os negros é de 4,2 milhões de unidades e para os brancos, 2,3 milhões.
Em educação, seriam precisos outro R$ 22,2 bilhões para nivelar índices como as taxas de analfabetismo entre adultos e o acesso à universidade. Medidas relacionadas ao saneamento demandariam mais R$ 7,6 bilhões.
O economista sustenta que este "custo do racismo" é um dado em aberto e seu valor pode aumentar com a inclusão no cálculo de outros elementos, como acesso à saúde, segurança pública ou emprego e renda.
Aponta, porém, que estes R$ 67,2 bilhões são o gasto necessário para a equiparação entre brancos e negros a curto prazo.
Segundo Theodoro, "é um volume com o qual o Estado brasileiro tem toda condição de arcar". Ele compara o valor a montante acumulado pela União como superávit primário para pagamento da dívida. De acordo com o economista, o investimento proposto equivale a 75% do superávit registrado entre janeiro e setembro de 2005.
A editora da publicação, Nilza Iraci, lembra que o dado é polêmico. "Não pelo valor, mas porque causa perplexidade quantificar o racismo, demonstrá-lo através de dados oficiais", disse a jornalista, ativista da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra.
Para o professor de Finanças da Universidade São Marcos e presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, Hélio Santos, falta incluir nesta conta o impacto do preconceito sobre a possibilidade de crescimento econômico e desenvolvimento do país.
Santos afirma que falta um modelo econométrico que calcule "o custo de oportunidade que recai sobre o País por perder tantos talentos".
A inclusão da população negra no mercado de trabalho é, no fim das contas, o resultado esperado da campanha que o Ethos assume com o lançamento do manual.
A publicação tenta sensibilizar o empresariado com dados como os apontados por Theodoro e outros pesquisadores e ativistas do movimento negro. Aponta, ainda, propostas de ações específicas a serem adotadas pelas empresas."
(Publicado em: 31/05/2006 - 18:30 / Folha Online Cidade: São Paulo - SP - País: Brasil /Autor: CRISTINA CHARÃO)
Fonte: http://www.gestaosindical.com.br
O Instituto Ethos é uma respeitável organização, e o estudo que patrocinou merece crádito, embora eu tenha pavor de quantificações de racismo ou do "custo" da dita igualdade. Mas é importante sabermos, quando o pesquisador o afirma, que o estado brasileiro tem como arcar com este custo, citando a capacidade do estado de acumular para o pagamento da dívida.
Porém, fica difícil acreditar que há seriedade na condução de uma política de combate à desigualdade racial quando se observa no desempenho orçamentário de 2005 a pífia disponibilização de recursos para políticas e ações afirmativas de igualdade racial num Brasil que se reconhece quase pela metade como preto ou pardo. (ver: www.contasabertas.uol.com.br)
A mesma coisa eu avalio se olho as fantásticas propagandas de programas de combate à pobreza. É verdade que o governo federal consumiu este ano recursos expressivos para garantir o Programa Bolsa Família, mas o fez sem ampliar os gastos com investimentos:
"...o Bolsa Família consumiu, de janeiro a abril deste ano, no Nordeste, 54,3% a mais do que o total de investimentos federais realizados na região até a semana passada. Enquanto que, em quatro meses, R$ 1,1 bilhão foi gasto para atender cerca de 4,5 milhões de famílias nordestinas, apenas R$ 735,8 milhões em recursos federais, foram investidos (até 24/05), nos nove estados da região." ( http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=1407)
Eu achava antigamente - êta palavrinha pesada, especialmente quando ela indica que falamos do século passado!!! - que a música que Luiz Gonzaga cantava -"...mas doutor uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão..." - era preconceituosa, e talvez o fosse, se considerarmos que a elite brasileira sempre qualificou de "financiamento" o apoio aos ricos e de esmola os benefícios para os pobres.
Hoje entendo que o "viciar o cidadão" não propõe o egoísmo, nem a ausência de solidariedade. O que se diz ali, ou o que eu hoje quero "ler" é que isto vicia a alma, abate-a em pleno vôo, pois não se garante, enquanto projeto de nação, condições objetivas de se fortalecer o cidadão. Entre a Bolsa Família e o posto de trabalho, mantenha-se a primeira como medida de curto prazo mas que se dê indicativos claros de que caminharemos para a garantia de postos de trabalho.
Dirão meus amigos petistas que "enquanto isto, o cidadão tem que comer!!!" e como o dizem com empáfia, meu deus!
Concordo. Plenamente. Mas como há de ser a mudança "estrutural" se alimento mais o Programa do que as oportunidades de trabalho e renda, lá isso eles não me respondem.
Tá. Eu estou "radicalizando".
Meu interesse por blogs começou por acidente. Uma pesquisa na NET, em meados de março de 2005, me levou a tropeçar num blog e nele acabei mergulhando. Naquela noite e nos dias que seguiram. Aliás, afogo-me até hoje na beleza das fotos, das telas, dos poemas e dos textos do antigo samartaime, hoje abracadabra. Depois disto, quis fazer o meu, tendo sido orientada que isto era uma tarefa árdua. Não o fato de fazer um blog, mas o compromisso de escrever regularmente.
Confesso que achei, à época, a recomendação um pouco exagerada. Afinal parecia relativamente simples fazer um blog, o que para mim não era muito diferente do fazer diários na adolescência, aqueles que tinham capa dura o meu era azul com uma chavezinha, para proteger a intimidade dos olhares curiosos. Esta proteção, no meu caso, foi quebrada pela minha mãe, que não precisou arrombar o delicado cadeado, pois, prenunciando o desligamento que me acompanha até hoje, um dia esqueci o diário aberto e ela o leu!
Caramba! Lembro que no dia seguinte aos seus comentários eu piquei o diário em pedacinhos, e não quis mais fazer outro. E que chorei de raiva noites a fio, pela quebra de privacidade, coisa que eu acreditava quase sagrada! Depois, voltei a escrever.
Muitas vezes, ao longo da vida, cometi versos, copiei poemas, letras de música ou frases soltas que tinham significado especial e as agregava em cadernos e depois, "modernamente", em arquivos de computador, dando às pastas, organizadamente, os rótulos que indicavam seus conteúdos: músicas, poemas, epígrafes, e, é claro, a famosa pasta "diversos"!
Em 1994, voltei a escrever quase diariamente, para resgatar sentimentos, fatos e cenas que pareciam querer se perder para sempre no redemoinho da minha memória.
Estas experiências anteriores, no entanto, pouco se parecem com o compromisso - e a ansiedade - que dá a feitura de um blog. Com ele tenho um envolvimento tão grande que, mesmo quando chego cansada, necessito escrever um bocadinho nele, ou ao menos, publicar uma foto. Há dias, é verdade, em que nada disso eu realizo, por falta de tempo, paciência ou assunto, mas fica um ligeiro incomodo de ter falhado e cá venho eu, nem que seja para espiá-lo um bocadinho.
Fazer um blog, para mim, é um exercício - aparentemente - contraditório, entre a arrogância e a humildade. Arrogância porque me suponho interessante e me largo a comentar a pátria, o circo e a fome! Humildade porque quando exponho meus medos, rancores, desejos, alegrias e frustrações, se penso em censura-los, não o faço, mesmo temendo ter sido piegas, exibida ou idiota, publicamente. Ou será que isto é só uma forma sofisticada de ser arrogante?
Eu faço o blog como faço minhas sessões de psicanálise e esta tela é o meu divã. Penso ainda que faço o blog porque busco, de várias formas, o alívio para o mal estar de estar no mundo e, de alguma forma, o blog funciona para provar-me que consigo dividir o espaço do sótão (ou porão) da minha cabeça entre os meus fantasmas, a realidade e os meus imutáveis desejos. Imutáveis, porque permaneceram desejos por não terem se realizado.
Divirto-me também, é claro, fazendo um blog. Mas, mais do que isto, purgo-me da minha mansa loucura.
Fui. Dormir, que ninguém é de ferro!