" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

10
Abr 06

height=360 alt=lugarcomum.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/lugarcomum.jpg" width=385 border=0>

Não sei porque a cena me lembrou a música de João Donato e Gilberto Gil, "...beira do mar, lugar comum, começo do caminhar, pra beira de outro lugar...", embora essa cena seja na beira-rio.

Lugar comum. É o nome da música. E a fotografia é o lugar-comum de uma sala de aula, tal qual existem aos milhares no Brasil real.

publicado por Adelina Braglia às 16:50

09
Abr 06

 

height=360 alt=corrente.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/corrente.jpg" width=480 border=0> 

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, neste domingo, que o astronauta Marcos César Pontes, "entra definitivamente para a galeria dos grandes personagens de nosso País". De acordo com a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, em nota, Lula elogiou o empenho, a dedicação e a simpatia do tenente-coronel pontes."

www.terra.com.br

Eu cá prefiro contraditar o Presidente, com essa foto, de brasileiros nem tão simpáticos como o tenente-coronel Pontes, mas que estão definitivamente na história dos grandes personagens do nosso país, pois sofrem os ônus da falta de estradas, de financiamento, de assistência técnica, de infraestrutura mínima para viver e produzir e ainda assim, com empenho e dedicação, assumem o controle da bússola do seu vôo nem tão solitário, mas sem descanso para aterrisar.

Argh!!!! Presidente, sua coleção de frases feitas e de lugares-comuns já passam da medida. Entre ser simples e ser cínico, quase não há mais diferença!

publicado por Adelina Braglia às 22:59

Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?

É que os bárbaros hoje vão chegar!

Mas porque reina no Senado tanta apatia?

Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?

É que os bárbaros hoje vão chegar.

Que leis hão?de fazer os senadores?

Os bárbaros que vêm, que as façam eles.

Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,

E se sentou na magna porta da cidade à espera,

Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?

É que os bárbaros hoje vão chegar.

O nosso imperador espera receber O chefe.

E certamente preparou um pergaminho para lhe dar, onde

Inscreveu vários títulos e nomes.

Porque é que os nossos dois bons cônsules

e os dois pretores trouxeram hoje à rua

as togas vermelhas bordadas?

E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,

e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,

por que razão empunham hoje bastões preciosos

com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?

É que os bárbaros hoje vão chegar.

E tais coisas os deixam deslumbrados.

Porque é que os grandes oradores como é seu costume

Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?

É que os bárbaros hoje vão chegar

E aborrecem arengas, belas frases.

Porque de súbito se instala tal inquietude

Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)

E num repente se esvaziam as ruas, as praças,

E toda a gente volta a casa pensativa?

Caiu a noite, os bárbaros não vêm.

E chegaram pessoas da fronteira

E disseram que bárbaros não há.

Agora que será de nós sem esses bárbaros?

Essa gente talvez fosse uma solução.

(Esperando os bárbaros - Konstantinos Kavafis)

publicado por Adelina Braglia às 08:08

07
Abr 06

height=357 alt="Salvaterra 003.jpg" src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/Salvaterra 003.jpg" width=476 border=0>

Há alguma coisa nesse rio que me fascina,

há uma luminosidade nesse céu que me incomoda.

Entre o fascínio e o incomodo,

vivi três quartos da minha vida.

O quarto que assim não vivi

- entre o fascínio e o incomodo -

virou lembrança remota de uma infância entre a terra e o céu,

colorida por potes de doces,

uns de abóbora, outros de manga ou de mamão verde,

ou por pães caseiros cheirosos, nas tardes de quinta-feira.

Pra que serve dizer isso tudo,

eu também não sei.

Mas parece-me esquisito ter vivido

três quartos da minha vida entre o fascínio e o incomodo.

Mais esquisito é eu imaginar que possa

reparti-la em novos pedaços,

e ter ainda mais um quinto

pra decidir o que quero.

 

 

publicado por Adelina Braglia às 17:02

05
Abr 06
Ainda não me refiz das cenas do jornal matutino, onde adolescentes infratores apareciam acocorados no canto do pátio do presídio. Manifestei isso pela manhã, no comentário anterior, mas ainda não sei como vou conseguir dormir. Lembro de uma frase do jornalista Clóvis Rossi, há anos atrás afirmando que somos o país dos que não dormem, com medo dos que têm fome. Por isso, pensei em escrever aos meus filhos, para lhes dizer que não era essa a mudança que queríamos, e para lhes dizer que não era medo o que pretendíamos lhes deixar como herança.
Não foi esse o Brasil pelo qual morreram tantos, muitos se perderam e outros desapareceram. Não foi esse o Brasil que a minha geração sonhou e, mais do que sonhou, comprometeu-se nas diferentes formas de luta para construir um país melhor.
Alguns, como eu, " os reformistas", acreditavam na mudança “por dentro” e lá se foram engajar no movimento estudantil e, quando mais maduros, no movimento sindical. Alguns seguiram mais à frente, mas a luta armada revelou-se apenas um caminho célere para a tortura e a morte. Estou certa, porém, que nenhum de nós sonhou o fracasso e a barbárie como resultantes, em que pesasse termos tantas divergências, que nos tornávamos presas frágeis para a ditadura.
E hoje, a barbarie está aí, ao nosso redor, seja pelos meninos acocorados no canto do pátio, seja pelas meninas prostitutas nas orlas nordestinas e nos centros metropolitanos, seja pelos velhos abandonados, seja pelos homens e mulheres - adultos ou jovens - sem trabalho, ou com salários aviltantes. O multiplicar de crimes hediondos, como o estupro e a tortura de crianças, as chacinas brutais entre rivais pelo controle do tráfico, a violência das torcidas de futebol, as mortes anônimas, gratuitas, estúpidas, os cruéis indicadores da barbárie. Contra isso, a oficialidade reinante divulga os índices otimistas de crescimento da indústria paulista!
Aí, só me vem a vontade de pedir desculpas pelo patrimônio tristonho que vocês herdam, pela pátria sem brilho, pelo chão lamacento, pelo céu cor de chumbo.
Perdão, meninos. Os meus e os outros.
publicado por Adelina Braglia às 23:03

Helicópteros, batalhão de choque da Polícia Militar, policiais civis, todos estão concentrados no centro de reclusão de adolescentes infratores, debelando a rebelião do presídio do Tatuapé. As cenas mostradas na TV são terríveis, os meninos estão nús, acocorados no canto do pátio, há policiais pelos telhados. Há notícias de meninos, policiais e reféns feridos durante a madrugada. Tudo muito grave, muito sério.

Mas, eu sonho: e se a tropa, os helicópteros, os policiais civis, após controlarem os perigosíssimos menores infratores - e alguns são mesmo perigosos, aprendizes que foram da não-vida e da não-cidadania brasileiras - seguissem para a casa do Palocci, do Serginho Land-Rover e do Delúbio e os recolhesse aos costumes? e passassem bem ali, pelo Palácio dos Bandeirantes ou onde quer que esteja morando a antiga inquilina, e pedissem pra Dona Lu Alckmin devolver os vestidinhos que, dizem os jornais,  ficaram indevidamente em seu poder?

Eu, pelo menos, passaria a dormir melhor.

Fui.

publicado por Adelina Braglia às 09:44

A viagem de Marcos Pontes ao espaço.

"Nunca passou no meu pensamento ser um astronauta. Mas, tive um amigo no colégio nazaré que além de gostar daqueles uniformes horríveis, queria vestir um. O quintal da casa na generalíssimo era grande então, forneci o espaço para seus experimentos, uma espécie de Cabo Canaveral (na época tinha esse nome) caseiro, como nós o denominamos. Ajudava nos planos das naves e disso eu gostava; desenhar foguetes espaciais. A experiência ia bem até a maior ousadia, no feitio do projeto de um foguete entre cinquenta e sessenta centímetros de altura e a infeliz escolha da base de lançamento, a ponta do quaradouro, perto do tanque de lavar roupa. O foguete explodiu e se desfez, mas também deixou rastros da experiência frustrada num pedaço queimado de um lençol, além do lugar para quarar parcialmente destruído. Fomos proibidos de prosseguir com as experimentações pelo meu pai, que nos mostrou uma alternativa, a do aeromodelismo, segundo ele, menos perigosa (dizia que por sua vontade eu seria um piloto aéreo). Pararam por ali minhas aventuras de Ícaro e meu amigo? Hoje, é um conhecido advogado.

Que benefícios a viagem de Marcos Pontes trouxe para o país? Não enxergo um que seja palpável e concreto, sou ainda mais pessimista, um provável orgulho nacional será passageiro, serve como cortina de fumaça para as mazelas da pátria que nos pariu - já tivemos outras (cortinas e não pátrias) - e o que ficará como um exemplo a ser assimilado por nossas crianças? Só o tempo dirá.

Li que o astronauta brasileiro levou oito experimentos nacionais para a estação espacial. Experiências de universidades como projetos para analisar os efeitos da gravidade nas enzimas, nas proteínas, danos e reparos do DNA na germinação e no crescimento das sementes de feijão. O objetivo é desenvolver conhecimentos na realização de pesquisas em ambientes “quase sem gravidade” disse o ministro da ciência e tecnologia. Nosso Gagarin (lembram?) fará relatórios sobre cada uma dessas experimentações. Bom, não sei avaliar o alcance científico disso tudo, se melhorar a qualidade da feijoada e seus efeitos colaterais posteriores (afinal, a questão mexe com aspectos gravitacionais, não?), já é alguma coisa

Nessa viagem a nação gastou 10 milhões de dólares. Sabe-se que os russos queriam vinte e deixaram pela metade. Se alguém me propõe um desconto de 50% numa compra eu desconfio, o cara queria, antes da oferta, me enganar ou tem alguma coisa por trás da qualidade do produto oferecido. Números como esses confundem, principalmente após ler uma notícia sobre patrocínios aos clubes europeus de futebol e nela constatar que valor da viagem do Marcos é, também, a metade do patrocínio da Sansung ao time de do Chelsea, equipe do técnico português José Mourinho, atual líder do campeonato inglês. Vá entender..."
(Jaime Bibas)




publicado por Adelina Braglia às 08:26

De tão contemporâneo, vale o "repeteco"!

(...)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,

deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,

agressões políticas nas ruas,

e de vez em quando o cometa de um regicídio

que ilumina de prodígio e de fanfarra

os céus usuais e lúcidos da civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,

artigos políticos insinceramente sinceros,

notícias passez à la-caisse,

grandes crimes - duas colunas deles passando para a segunda página!

(...)


Ode triunfal - Álvaro de Campos

publicado por Adelina Braglia às 05:09

04
Abr 06
gaivota.jpg
publicado por Adelina Braglia às 07:49

03
Abr 06

Gabriel.JPG



“A Polícia Federal prendeu, ontem pela manhã, Manoel Cardoso Neto, o 'Nelito'. Ele é acusado de ser o mandante do assassinato do advogado Gabriel Sales Pimenta, ocorrido em 18 de julho de 1982, em Marabá, no sul do Pará. A detenção, por volta das 7h30, aconteceu na fazenda Rio Rancho, na cidade de Pitangui, no Estado de Minas Gerais. Desde 2002 ele era considerado foragido da Justiça de Marabá. O acusado é irmão do ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso.

Em nota enviada à imprensa, a PF informou que a operação para a captura de 'Nelito' durou aproximadamente dois meses e envolveu agentes da Polícia Federal do Pará, Bahia e Minas Gerais. O então juiz da 4ª Vara Penal de Marabá, Marcus Alan de Melo Gomes, decretou, em 2002, a prisão preventiva de 'Nelito'. Gabriel Pimenta foi assassinado, pelas costas, com três tiros de revólver, disparados à curta distância. Segundo a PF, o autor dos disparos foi o pistoleiro de aluguel José Crescêncio de Oliveira, contratado pelo chefe de pistolagem José Pereira da Nóbrega, o 'Marinheiro' - este já falecido - e tido como sócio de Nelito.

Gabriel Sales Pimenta era envolvido na luta dos camponeses da vila de Pau Seco pela posse da terra. Lá viviam, há anos, 158 famílias de camponeses. 'Nelito' pretendia a área. Para isso, diz a Polícia Federal, conseguiu uma liminar de reintegração de posse. Mas o advogado, em apoio à organização e à luta dos camponeses, fez com que a liminar fosse revogada, por meio de um mandado de segurança. Ele também exigiu que a própria Polícia Militar, que antes fizera o despejo dos camponeses, os reconduzisse de volta à Vila Pau Seco, onde estão até hoje.” (Jornal “O Liberal”, Belém, Pará, 03.04.2006)


É importante que isso tenha acontecido. Para que os mais jovens compreendam que o velho ditado “... a Justiça tarda, mas não falha...” faz algum sentido. Mesmo quando essa justiça cavalga uma mula manca durante 24 anos. Mesmo que os juízes que antecederam os Drs. Marcus Alan de Melo Gomes e Ricardo Felício Scaff, pudessem ter tomado as enérgicas providências para decretar a prisão do réu, há mais de duas décadas.


Para nós – Rosa, Daniel, Antonio Chico, Chicó, Ina, Deninha, Ireno, Juarez, Alcides, Alcidinho e outros companheiros daquela travessia – também faz diferença. Para sua mãe, irmãos, amigos, com certeza também faz. Mas fez muito mais no dia 18 de julho, quando você foi abatido a tiros.

 

Um beijo, companheiro.

 

publicado por Adelina Braglia às 17:59

Abril 2006
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
12
13
15

16
20
21
22

23
27
29

30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO