" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

16
Mar 06
"CARTA ÁCIDA

Opus Dei? Não: TFP

Pairava ainda alguma dúvida sobre o governador de São Paulo pertencer, de coração e mente, à Opus Dei? Ele respondeu: o seu agora auto-propalado gosto de chuchu disfarça o travo da TFP...

Flávio Aguiar

O começo de campanha de Geraldo Alckmin, já candidato único do PSDB, não podia ser mais revelador: em Campinas, saiu em defesa da Tradição, da Família (bases da Pátria, com os Costumes e a Religião) e da Propriedade (ao atacar uma suposta complacência de Lula para com o MST, pois lhe faltaria a Autoridade). Pairava ainda alguma dúvida sobre o governador de S. Paulo pertencer, de coração e mente, à Opus Dei? Ele respondeu: o seu agora auto-propalado gosto de chuchu disfarça o travo da TFP...

O apelido de “picolé de chuchu” descreve bem a fachada de Alkmin; mas na verdade ele se revelou um combatente tenaz, algo feroz, e de direita. Todas as conversas extra-oficiais e as carrancas dos envolvidos mostravam que a luta interna, no PSDB, entre serristas e alckmistas, assistidas a cavaleiro por um sorridente Aécio, foi dos mais violentos embates de bastidor que já houve na política brasileira.

Para a torcida, mostravam-se cenas olímpicas de uma luta elegante: a “Ceia dos Cardeais” (nome de uma peça que foi famosa no Brasil e em Portugal, nos idos de 20) no Massimo, um “Breakfast at Tiffany’s”(nome de um filme famoso, com Audrey Hepburn, “Bonequinha de Luxo”), no Palácio dos Bandeirantes. Mas nos bastidores, era a luta armada, o vale tudo: teve golpe de karatê, dedo enfiado no olho, pescoção, carrinho, tesourada, do gogó para baixo tudo era canela.

O acalorado da disputa é muito significativo. Nada de projetos para o Brasil, políticas alternativas, sejam mais à direita ou mais à esquerda, ou coisas de tal naipe, estavam em discussão. O que importava mesmo era simplesmente o controle da máquina partidária, para o presente e para o futuro, e a ocupação do espaço de candidato.

Enquanto a luta se acirrava atrás do palco, na imprensa conservadora choviam artigos propalando que não tinha sentido cobrar de Serra a promessa feita de permanecer na prefeitura até o fim do mandato (embora uma pesquisa indicasse que 67% do eleitorado paulistano preferisse o cumprimento da palavra).

Para o colégio dos cardeais tucanos, também pouco importava a palavra empenhada com os eleitores, pois Serra parecia ser o único candidato da gaiola para bater o que, durante algum tempo, se julgou ser o arrasado Lula. Mas... ocorre que, além de empenhar a palavra com a plebe e a aristocracia paulistanas, o prefeito empenhara a palavra... com Alckmin, que ajudou sim Serra a se eleger. E o colégio cardinalício também empenhara a palavra com Alckmin: na troca de favores, este apoiaria com tudo Serra para este chegar à prefeitura, mas em 2006, seria a vez dele.

Lembram-se, leitores e leitoras, daqueles gigantescos engarrafamentos no segundo semestre de 2004, logo antes das eleições paulistanas e logo depois das inaugurações das obras viárias da gestão de Marta Suplicy? Pois é, naqueles momentos cruciais lá estava a PM, de controle estadual, fazendo batidas e mais batidas nas marginais, numa situação crônica em que se sabe que basta haver um caminhão com pneu furado no acesso a uma das pontes que atravessam o Tietê ou o Pinheiros, para que o trânsito em São Paulo simplesmente congele.

Alckmin resolveu cobrar a conta, de tudo e de todos. Então, quando Lula parecia imbatível, o candidato podia ser ele, pois era mesmo para perder? E agora, em que havia (e ainda há, é bom não esquecer, porque eleição só se decide quando os últimos votos são registrados) chance de ganhar, o candidato seria outro? Ah, não: o chuchu resolveu sair da cerca e pôr-se a campo e ganhar o prometido pódio partidário que agora ameaçavam lhe roubar.

O notável nesta história tão “edificante” é que Alckmin e sua “República de Pindamonhangaba” conseguiram não só enquadrar Serra, como conseguiram roubar a cena ao colégio de cardeais que, normalmente, deveria ocupar o espaço decisório no emplumado imaginário tucano. Serra e os serristas lançavam cantos de sereio em direção à esquerda, conseguindo adeptos, inclusive entre remanescentes do finado (ma non troppo...) Partidão e entre ex-combatentes da antiga AP cristã e suas raízes nas JUC’s e JEC’s de antanho. Alckmin aferrou-se aos controladores de votos tucanos – deputados federais ou estaduais, estes em S. Paulo, governadores.

Também contou com o apoio do tucanato que faz parte das máquinas de Estado, tanto em S. Paulo, como ainda na administração federal, ou entre aqueles que são representantes de classe e que têm de interagir com freqüência com o Estado. Banqueiros, individualmente, podiam até preferir Palocci à incógnita sobre quem seria o ministro de Serra, ainda mais depois que aves migratórias da esquerda começaram a arribar no ninho do tucano. Mas os representantes de classe dos banqueiros sempre preferiram solidamente Alckmin a qualquer outra opção.

De “pragmático”, que no jargão conservador quer dizer “descolorido ideologicamente”, Alckmin não teve alternativa senão mostrar a penugem de direita escarrada, agora mais visível que plumas em desfile de Carnaval.
E assim irá, pelo menos de momento, sua candidatura, juntando retórica ultramontana com promessas de austeridade onde se misturam palavras de ordem da finada UDN com princípios neo-liberais de minimalização do Estado. Depois, é provável que haja acenos de políticas sociais compensatórias e que serão marcadas pelo discurso da “eficiência”.

No plano internacional ainda não sabe o que prometerá uma candidatura Alckmin, mas se sabe o que significará uma presidência tucana nessa altura do campeonato: a desarticulação da frente política de centro-esquerda na América do Sul, a abertura completa de espaço para os tratados de livre comércio bilaterais com que os Estados Unidos vêm tentando se contrapor a essa frente, a formação de um eixo maligno Brasília – Bogotá – Washington para emparedar (pelo menos) Hugo Chávez na Venezuela.

Entrementes, os alckmistas prosseguem na sua política de emparedamento local. Não parecem muito dispostos a abrir espaço para uma candidatura de Serra ao governo do estado de S. Paulo, apesar das evidências de ser ele o melhor candidato tucano nas pesquisas (embora reste ainda o problema, menor em nível estadual, da quebra da palavra quanto à prefeitura). Alckmin e sua república, diferentemente de Serra e seu ninho, têm uma visão de longo prazo quanto ao controle férreo da máquina e dos espaços do partido, e além dos compromissos de favor entre uns e outros, sabem, por instinto, que deixar num momento eleitoral os dois maiores orçamentos do país (os do estado e da cidade de S. Paulo) nas mãos do aliado/rival PFL pode ser muito perigoso para seu futuro.

Neste tão complexo quão interessante enredo partidário, resta saber o que farão os viúvos de Serra, tanto no plano interno do PSDB quanto no externo, o daqueles que prestaram juramento precipitado a ele, mas não ao tucanato como um todo, muito menos o de Alckmin.

Felizmente a vida continua cheia de surpresas. De certo, neste momento de incertezas, só se sabe que continuará, no curto prazo, a defesa acendrada da Tradição, da Família e da Propriedade pelo recém ungido candidato da direita brasileira.

Flávio Aguiar é professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e editor da TV Carta Maior."

(http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=2986)

publicado por Adelina Braglia às 21:31

Morreu Josué Montello. Melhorei minha vã consciência sobre a escravatura no Brasil, quando li Os tambores do Maranhão, há tanto tempo que eu ainda tinha esperanças!

Em sua homenagem, transcrevo Gregório de Matos:


"Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E a maior desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quem são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos."

(poema retirado do texto  A trajetória do negro na literatura brasileira, de Domício Proença Filho)

publicado por Adelina Braglia às 06:58

Lula dispara nas diversas pesquisas. Alckmin está definido como o candidato do PSDB (salvo qualquer pequena mudança ao longo do caminho, como sói à conhecida "determinação" dos tucanos....risos...), Garotinho despenca e Roberto Freire nem é cotado. Se esse for o ritmo, poderei cumprir meu principal desejo em relação ao meu voto em outubro: será, patrioticamente, anulado.

Interessante é obervar a informação adicional: uma proporção maior dos que preferem Lula querem mudanças profundas na economia, o que não me parece contraditório. Isso sugere que acreditam que essa mudança poderá ser feita no segundo governo Lula. Somadas as proporções - sim, eu sei que "estatisticamente" isso não é correto - dos que querem a manutenção da atual política à dos que não sabem o que querem, temos a exata proporção dos que preferem Alckmin.

Mais lógico do que isso, só a certeza de que o sol nasce todos os dias, mesmo quando não rompe as nuvens.

Bom dia!

publicado por Adelina Braglia às 06:42

15
Mar 06

Um garoto de cerca de 12 anos, mas miúdo demais para a idade, é levado ao Posto de Saúde do bairro, porque sente uma forte dor na barriga. O adulto que o acompanha não o conhece. Informa apenas que ele mora debaixo da ponte, ali perto.

A atendente do Posto pergunta-lhe o que comeu que lhe fez mal, ele responde que na noite anterior comeu feijão e a barriga passou a doer. A atendente lhe dá o remédio e a cama de enfermaria para dormir. E ele dorme, imediatamente, durante 4 horas ou mais, com sorriso de anjo no rosto, parecendo que a dor deixara de existir, não pelo remédio, mas pelo prazer de encontrar um colchão onde esticar seu corpo.

Ai, Brasil, dos meninos debaixo da ponte, que droga faço eu pra aguentar tanta dor, que mágica me fará esquecer essa maldita história e conseguir dormir?

publicado por Adelina Braglia às 20:34

14
Mar 06

height=360 alt=P2230003.JPG src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/P2230003.JPG" width=480 border=0> (Foto:Rosa Almeida)

 
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Uma mão que arranque o coração do peito, pra ele descansar!
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Um tempo pra eu ter pena de mim, se assim eu puder!
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Um país pra eu andar nas ruas, sem me envergonhar!
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Uma vida, no avesso dessa, pra eu recomeçar!
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Um pouco de comiseração, pra eu me perdoar!

 

publicado por Adelina Braglia às 06:35

13
Mar 06

Cada madre agobiada ya descansará
Y en nuestros brazos sus criaturas reposarán;
Cuando el sol se pone sobre el campo
Amor y música les brindaremos
Y las madres cansadas ya descansarán.

Y el campesino con su arado y su tractor
En la frente la extraña frescura sentirá
De las lagrimas de pena
Derramadas por los comerciantes
Y los agricultores ya descansarán

Los trabajadores dolientes de la tierra
Otra vez el himno tan resonante cantarán
"Ya no seremos los pobres,
ya no viviremos en esclavitud"
Y los trabajadores luego cantarán.

Cuando los soldados sus garitas dejarán
Y en las trincheras sus uniformes quemarán
Oh mi general, tus fieles tropas
Ya se habrán olvidado de tí!
Y la gente del mundo ya descansará.

 


(Joan Baez)

publicado por Adelina Braglia às 22:53

09
Mar 06

A cada passo, escorrego.

A cada abraço, me aflijo.

A cada riso, me encolho,

a cada dia, insisto!

 

A vida segue sem pena

desse meu frágil conflito:

não sei se choro, se grito,

não sei se faço de conta,

nem sei se vou para o Egito!

 

E ao fazer essa rima idiota,

penso que, antes de tudo,

devo voltar à analista,

e dizer-lhe que,

a esta altura,

não lhe pago mais à vista!

publicado por Adelina Braglia às 07:05

07
Mar 06

height=360 alt=biacarrossel.JPG src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/biacarrossel.JPG" width=480 border=0>

 (Foto: Rosa Almeida)

class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Essa é Beatriz, a minha mulher maravilha! prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Sou, sim, uma avó cabotina! Bia merece. class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">É doce, é firme, é gentil. E me ama! Claro que assim é se me parece!class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">E a minha Bia está aqui, para homenagear todas as minhas maravilhosas mulheres no nosso “dia internacional”: meus amores, minhas amigas, minhas irmãs.class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Viva nós, ou “nóis”, que soa até melhor!class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Beijos!!!
publicado por Adelina Braglia às 22:08

06
Mar 06

Eu não voto em José Serra, nem em Fernando Henrique Cardoso, Alckmin ou Aécio.

Não voto em Heloisa Helena, pois considero que meu voto não é brincadeira de gente grande. Não voto em nenhum candidato do PMDB, se é que eles vão mesmo ter candidato, ou se a gente pode acreditar que Garotinho é candidato!

Pensei em votar em Roberto Freire no primeiro turno, e anular meu voto no segundo. Mas, uma coisa é Roberto Freire no Brasil, outra é sua política paroquiana em Pernambuco, parecida com a de todos os outros.

Talvez eu anule meu voto desde o primeiro turno. Eu não voto de novo em Lula. A única possibilidade de rever essa decisão é se o seu adversário no segundo turno for o Garotinho.

 Nunca anulei meu voto, nem mesmo quando a esquerda pregava o voto nulo como a única chance de manifestar nosso protesto, lá pelos idos de 74, 78. Eu achava, naquele momento, que meu voto era imprescindível, não para a democracia, mas para a minha consciência.

O que mudou a ponto de eu considerar anular meu voto? Infelizmente, só a minha consciência, que me impõe duas decisões: não votar mais no menos ruim, pois nunca existiu o melhor, e não postergar o desejo e a esperança pra outras décadas.

Eu não tenho mais décadas disponíveis.

publicado por Adelina Braglia às 14:00

04
Mar 06
Parece fácil, assim:
respirar, sonhar, dormir.
Parece simples: ouvir, falar.
As escolhas nem sempre ficam claras,
mas são escolhas,
mesmo que depois se responsabilize
"as circunstâncias".
Sabe?
Não, não sabe, não.
O que eu falei, você não ouviu.
Quando você falou, eu já não escutava.
Uma lufada de vento entra pela janela
e faz voar papéis e o jornal.
E o mundo se espalha pelo chão.
Recolho os papéis,
e tento acalmar minhas angústias.
Fácil, assim, como abaixar-me, e recolher o mundo
em notícias de jornal.
publicado por Adelina Braglia às 20:27

Março 2006
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

12
17
18

19
21
25

26
28


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO