" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

13
Fev 06

Você já se sentiu assim, como quem pintava a parede e, de repente, alguém retirou a escada, e você ficou pendurado na brocha?

Você já sentiu, de repente, e, aflitivamente, a sensação recorrente de estar assistindo sua vida na tela da TV, e de ser um personagem secundário em capítulos infindáveis?

Você já sentiu, assim, de repente, que o tempo passou, e que você investiu todas as suas energias no sonho coletivo, que parece hoje um imbecil pesadelo?

Você já se sentiu como alguém que tem mil avaliações e nem sequer uma decisão?

Você já sentiu um vazio enorme, daqueles que, objetivamente, envergonham, e que a levam a pensar que se você tivesse um tanque cheio de roupas pra lavar, talvez  não tivesse tantas angústias?

Você já teve vontade, muita vontade, de não ser tolerante, de não relevar nada, absolutamente nada, e só de pensar isso, você se sentiu mais humana?

Você já quis um colo, apenas um colo, em troca de nada, apenas um carinho sem contestação, sem cobranças?

Você já teve a sensação de ser inadequada, absolutamente inadequada?

Você já lembrou várias vezes o verso de Fernando Pessoa "... se te queres matar porque não te matas? ...", sem que isso tivesse qualquer ranço de tragédia, e fosse apenas uma pergunta banal?


Você já teve vontade, muita vontade, de descer do mundo e esperar a próxima volta?

publicado por Adelina Braglia às 21:59

10
Fev 06

Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

 

Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha.)

 

Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

 

Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra

(Sonetos que não são - I - Hilda Hilst)

publicado por Adelina Braglia às 07:18

08
Fev 06

height=724 src="http://www.raulseixas.com.br/oculos1.jpg" width=555>

(Raul Seixas e Paulo Coelho(*): Óculos escuros. www.raulseixas.com.br)

(*) Sim, o mesmo autoajudista que fatura horrores de dinheiro há décadas! 

Pena ter morrido o Raul! Quem sabe ele vivo,  não teríamos Paulo Coelho hoje)

publicado por Adelina Braglia às 06:53

" GENEBRA (Noticias OIT) – O número de pessoas desempregadas no mundo registrou um novo aumento em 2005, evidenciando que o forte crescimento econômico não pode compensar o aumento na quantidade de pessoas que procuram trabalho, sobretudo entre o grupo cada vez mais numeroso de jovens desempregados, afirma a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu relatório sobre Tendências Mundiais do Emprego, divulgado hoje.

O relatório da OIT sustenta que a debilidade da maior parte das economias para converter seu PIB em criação de postos de trabalho ou no aumento de salários, junto a uma série de catástrofes naturais e o aumento do preço da energia, afetam com particular dureza aos trabalhadores pobres do mundo.

O relatório demonstra que apesar do crescimento de 4,3 por cento do PIB mundial em 2005, somente 14,5 milhões dos mais de 500 milhões de trabalhadores do mundo em condições de pobreza extrema conseguiram superar a linha da pobreza de 1 dólar/dia por pessoa.

Além disso, dos mais de 2,8 bilhões de trabalhadores no mundo em 2005, há 1,4 bilhão que não ganham ainda o suficiente para elevarem sua situação e de suas famílias para acima da linha de pobreza de 2 dólares diários, situação que perdura há 10 anos, afirma a OIT.

“O relatório deste ano demonstra uma vez mais que o crescimento econômico não é capaz de satisfazer por si mesmo às necessidades mundiais de emprego. Isto está atrasando a redução da pobreza em muitos países”, disse o Diretor Geral da OIT, Juan Somavia. “Estamos enfrentando uma crise mundial do trabalho de proporções enormes, e um déficit de trabalho decente que não vai ser resolvido sem que se faça alguma coisa. São necessárias novas políticas e ações para enfrentar estes problemas”.

(Leia mais: www.ilo.org.br)

publicado por Adelina Braglia às 06:45

07
Fev 06

height=356 alt=domingo.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/domingo.jpg" width=448 border=0>

class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Voltar sobre os próprios passos prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">pode trazer surpresas e prazeres.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">As árvores podem ter florescido,
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">a grama crescido. class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Reencontrar pessoas nos desvãos da memória, class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">rever lugares.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Sentir cheiros, sabores, class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">que revivem alegrias.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"> 
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Voltar sobre os próprios passos
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">pode renovar velhas dores.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">As árvores desfolharam.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">A grama secou, pois, tal como Átila, eu a matei na passagem.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Tato, paladar e olfatoclass=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">trazendo receios e medos.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Afinal, surpresa é pra quem faz,
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">sempre dizia meu pai.

 

publicado por Adelina Braglia às 06:55

06
Fev 06

" Um Estado de Exceção.

Todas as políticas do Estado são de exceção: Bolsa-Família, por reconhecer que o salário é insuficiente mas não pode ser aumentado; vale-gás, por reconhecer que o gás de cozinha é insubstituível, mas não se tem dinheiro para comprá-lo; bolsa-escola, para melhorar o salário insuficiente e lograr evitar a evasão escolar, que ao mesmo tempo pode punir o pai que não manda o filho à escola;fome-zero, por reconhecer que não se pode zerar a fome. Vale-transporte já vem de longe. E o salário-mínimo não pode aumentar porque arromba as contas da Previdência.

(...)


Muito pessimismo e argumentação economicista. A política e a democracia não são a negação do domínio do econômico, não se constituiram assim na história do último século ? Perdão: aqui do que se trata é que a dinâmica do capitalismo globalizado anulou a autonomia das esferas. Além disso, na minha tradição teórica, a economia política é a anatomia da sociedade. Se quisermos fazer uma ciência social à la americana, sem determinações recíprocas entre as diversas esferas, poderemos até ver virtude numa “sociedade civil” que institui “segurança” nos morros do Rio e nas imensas Heliópolis – veja-se o sarcasmo da denominação grega – de São Paulo.Não é o meu caso; chamem Duda Mendonça. A obrigação da ciência social é perscrutar, com a paciência – e a indignação – de Sherlock Holmes a quem interessa essa desolação. Esse Pedro Páramo da democracia.Obrigado, Rulfo."

 (Francisco de Oliveira: O capital contra a democracia, in: Seminário Os sentidos da democracia e da participação, 2003.)

publicado por Adelina Braglia às 13:28

05
Fev 06

vendedora.jpg



Esse é o Brasil real. Aquele que é escondido pelas estatísticas “oficiais”,


pela publicidade governamental, posto a nu pelos próprios dados oficiais,


se olhados pelo lado da verdade.


 


Esse é o Brasil dos milhões de jovens sem emprego e sem escola,, onde 


as estatísticas mostram que  a maioria da população carcerária está entre


os que têm entre 18 e 25 anos, e o governo investiu no programa


de apoio às ações sócio-educativas aos jovens em situação de conflito,


apenas 21,30% do que estava orçado.


 


É o Brasil da reforma agrária ficcional, onde no programa de recuperação


de assentamentos foi gasto apenas 47,53% da dotação inicial em 2005.


 


Não, não queríamos mágicas, nem milagres. Queríamos apenas “empatar”


com as proporções pagas aos juros e encargos da dívida (80,17%, equivalente a 88 bilhões de reais) ou, pelo menos da proporção já paga na sua amortização (54,57%).


 


Fonte dos dados: http://contasabertas.uol.com.br


publicado por Adelina Braglia às 08:54

04
Fev 06

pode parecer promessa

 mas eu sinto

que você é a pessoa mais parecida comigo

que eu conheço

só que do lado do avesso

pode ser que seja engano,

bobagem ou ilusão de ter você na minha

mas acho que com você eu me esqueço

e em seguida eu aconteço

por isso deixo aqui meu endereço

se você me procurar

eu apareço

se você me encontrar

te reconheço...

(Avesso - Alice Ruiz)

publicado por Adelina Braglia às 07:06

03
Fev 06

Se a vida me desse um século,

ainda assim eu me surpreenderia,

não com os dons da natureza -

os rios, as matas ou o nascer do dia –

mas com a nossa atávica arrogância

de nos sentirmos donos do universo!

 

E se a vida me desse um século,

a cada quartil dela eu retomaria

as recordações que haviam me embalado

- músicas, risos, cenários, amigos -

e tentaria não ser tão arrogante

acreditando cultivar memórias exclusivas.

 

Se a vida me desse um século,

talvez eu me cansasse de tanta poesia,

talvez me entediasse tanta nostalgia,

mas acho que seria menos presunçosa,

por achar que sou tão importante

a ponto de esquecer de mandar-te um beijo!

publicado por Adelina Braglia às 18:37

height=360 alt=dialavado.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/dialavado.jpg" width=480 border=0>

Hoje eu me senti como um dia lavado depois da chuva.

A sensação foi tão forte ao acordar, que eu temi estar "surtando", definitivamente!

Depois, pensei que fazia sentido essa sensação:

o dia lavado pela chuva guarda os traços da tempestade,

mas rebrilha, mesmo que mais dia, menos dia,

volte, inexoravelmente, o temporal.

É isso: sou hoje um dia lavado, com a memória da tempestade,

mas vou deixar fluir essa claridade, e esse sol,

ainda que me sinta piégas,

mas não quero esquecer essa sensação.

publicado por Adelina Braglia às 08:34

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