Você já se sentiu assim, como quem pintava a parede e, de repente, alguém retirou a escada, e você ficou pendurado na brocha?
Você já sentiu, de repente, e, aflitivamente, a sensação recorrente de estar assistindo sua vida na tela da TV, e de ser um personagem secundário em capítulos infindáveis?
Você já sentiu, assim, de repente, que o tempo passou, e que você investiu todas as suas energias no sonho coletivo, que parece hoje um imbecil pesadelo?
Você já se sentiu como alguém que tem mil avaliações e nem sequer uma decisão?
Você já sentiu um vazio enorme, daqueles que, objetivamente, envergonham, e que a levam a pensar que se você tivesse um tanque cheio de roupas pra lavar, talvez não tivesse tantas angústias?
Você já teve vontade, muita vontade, de não ser tolerante, de não relevar nada, absolutamente nada, e só de pensar isso, você se sentiu mais humana?
Você já quis um colo, apenas um colo, em troca de nada, apenas um carinho sem contestação, sem cobranças?
Você já teve a sensação de ser inadequada, absolutamente inadequada?
Você já lembrou várias vezes o verso de Fernando Pessoa "... se te queres matar porque não te matas? ...", sem que isso tivesse qualquer ranço de tragédia, e fosse apenas uma pergunta banal?
Você já teve vontade, muita vontade, de descer do mundo e esperar a próxima volta?