" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

09
Jan 06

height=358 alt=guardasol.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/guardasol.jpg" width=478 border=0> 

Praia de Juquehy - São Paulo - Brasil

Os guarda-sóis -  estranho plural, esse! - fechados e enfileirados lembram uma pajelança!

publicado por Adelina Braglia às 22:31

08
Jan 06

solpoente.JPG


Não dá pra precisar a data, embora o papel amarelado, o texto “datilografado” e o assunto, me remetam ao início dos anos 80. Sem saber os motivos da minha insônia, Rosa localizou esse papel hoje cedo e em meio a outra coincidência - temos, ao fundo, o som e a imagem dos depoimentos do Chico, numa série lançada pela TV Bandeirantes, onde ele faz o seu precioso, poético e preciso relato dos últimos 30 anos deste Brasil - lá vou eu no túnel do meu tempo!

Releio o texto no papel amarelado. Marabá, sul do Pará, a ponte sobre o rio Tocantins recém inaugurada, levava – e ainda leva - o minério da serra de Carajás para o porto de Itaqui, em São Luiz, Maranhão. Marabá, o estado do Pará, seu povo, suas esperanças, suas prioridades, continuam a ser meros acidentes no trajeto da ferrovia.

Vale o registro, nem que seja só pra me lembrar o quanto sou reincidente na sensação de janelas fechadas e pedaços arrancados, formando buracos na alma:

 


Às 7 horas da noite, tendo ao fundo o sol poente

o trem atravessa o rio por sobre as pernas da ponte.

Não seria quase nada esse fato corriqueiro

se isso não me lembrasse outras noites, outros tempos.

Tempo em que se pensava que o mundo já acabava na curva do Itacaiúnas,

e tudo de ruim que isso podia trazer.

A gente era mais suave, mais viscoso, ou quem sabe, mais ingênuo.

Se eu fechar os olhos, apurar o olfato, os ouvidos e a memória,

vejo tudo como um filme:

o barraco do aeroporto, as canoas do Amapá – que ainda estão por lá –

como se não fizesse diferença Marabá ter chegado ao mar!

Talvez igual mesmo, só o sol poente.

E para ser honesta é preciso enxergar sem os olhos da saudade,

mas, por mais que eu me esforce fica sempre o gosto amargo do pedaço arrancado.

O trem atravessa o rio sobre enormes pernas de ferro,

as mesmas enormes pernas que levam Marabá ao mar,

ao lambe-lambe salgado das águas do oceano.

 

publicado por Adelina Braglia às 12:31

Em janeiros passados, eu tinha o riso leve e solto, dos que não sabem a verdade. Nessa madrugada de um domingo de janeiro, tenho o riso contido, dos que aprenderam que há mentiras e mentiras. Penso nas minhas poucas convicções, não mais que meia dúzia de três ou quatro, aquelas que sustentam a coluna vertebral e das quais, se eu abrir mão, eu morro, e vejo que são muito poucas, se comparadas às que cultivei naqueles janeiros passados.

Não sei porque me veio essa necessidade de um “balanço de começo de ano”. Não sei porque a minha quase feroz autocrítica, que vinha sendo amainada pelos maravilhosos comprimidos de Pondera, aflorou assim, como se o banho noturno me tivesse tirado a pele cordial que sempre visto ao amanhecer.

Volto a pensar que gostaria de ter sido cantora de bar, daqueles onde as pessoas vão à noite pra namorar, ouvir música, afogar as mágoas ou para deixar vir à tona sua alegria. Não, eu não agüentaria cantar em churrascarias, onde as pessoas vão gritar suas conversas cretinas, ou mastigar de boca aberta enormes pedaços de carne. Talvez assim não acumulasse convicções para deitá-las fora com o passar dos anos.

Não, eu não acho que cantores de bar são imbecis! Creio apenas que, por faltar-lhes o “tempo comercial” para que a vida os entupa - afinal, durante o dia, devem gastar boa parte do tempo a dormir – provavelmente consigam discernir melhor o que vale a pena acumular nas pautas da cabeça.

Há um silêncio a rua e um apagar constante das luzes das janelas nos edifícios vizinhos. Faço, imediatamente, uma ligação entre as janelas apagadas e as minhas convicções jogadas fora. É isso. Sinto-me como um edifício cheio de janelinhas apagadas, com a diferença que amanhã elas, as janelas, estarão acesas novamente, e eu, eu continuarei com três ou quatro janelas que nem sei mais se as quero abrir para entrar o sol.

Amanhã acordo com a alma renovada, como sempre acontece. Mas hoje não. Vou dar-me ao luxo de olhar mais uma vez para fora e me reconhecer no edifício em frente, janelas escuras, comprida sombra noturna.

publicado por Adelina Braglia às 00:51

06
Jan 06

morrinhos.JPG


Água mole em pedra dura

tanto bate até que fura,

mas é um moto-contínuo,

é um passar e passar,

sem interrupção ou sossego.

Água mole em pedra dura,

é água enquanto passa,

é pedra enquanto dura.

 

publicado por Adelina Braglia às 21:13

Há um culpado prazer em fazer nada, é verdade. Mas quando lembro que o dito diz que o trabalho enobrece e dignifica o homem, entendo que é um dito para os homens. Assim, viva minha feminina vadiagem!

Embora o barulho dos pensamentos na roda enferrujada da cabeça incomode um pouco, passei o dia a fazer nada. Ouvi música, escrevi mails, li notícias. Saí a almoçar com uma amiga, num rápido intervalo do nada fazer, o que foi prazeroso.

Sexto dia de 2006, quinto da semana, se a contarmos a partir da segunda-feira: o presidente Lula, de sunga vermelha, faz a alegria da imprensa tomando banho de mar na Bahia. José Dirceu inaugura o ano na revista Caros Amigos com uma entrevista vingativa, que em nada contribuiu pra que eu me livrasse dessa sensação desagradável de ter perdido meu tempo lendo-a. Porém, reconheço que não cabia ao Comissário preocupar-se com a minha ociosidade produtiva.

Não, não é tédio o que sinto. É um prenúncio deste 2006, no qual coloquei tolas expectativas.

Fui. Ao chopp. Com chucrutes.

publicado por Adelina Braglia às 14:55

04
Jan 06

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Pra ver o sol nascer - Gilberto Gil prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Sol acende a luz
atende à minha voz.
Ascende, de acender e de subir,
de clarear, de despertar assim
a mim e a tudo mais.
Atende à minha voz
ao meu saxofone cor do sol.

Sol, nasce d'ouro pra nós

 





publicado por Adelina Braglia às 09:49

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Não. A foto não é involuntária. Ao dar de cara com meu joelho, como se o visse pela primeira vez, fotografei-o.

Guardei na memória destes meus 56 anos tantas imagens, sons, cheiros, palavras e nem sequer me apercebi do meu joelho!

Olhei-o como um pedaço novo do meu velho corpo. Pensei que há tanto para me aperceber! É claro que além dos cotovelos, nariz e boca. Há os sentimentos. Aqueles desenvolvidos a partir de sons, cheiros, palavras, gestos.

Comprometo-me comigo a estar mais atenta em 2006. Nada, nada, já é um bom começo.

publicado por Adelina Braglia às 08:18

03
Jan 06

Canto de Esperança - Solano Trindade


Há sempre um poema me esperando nas amadas feitas de ternura
e por isso o meu tempo
não é contado à velhice
Estou conservado no ritmo do meu povo.
Me tornei cantiga determinadamente
e nunca terei tempo para morrer
Meu desejo de paz se tornou rosa
e a minha vida é enfeitada
com bandeirolas coloridas
porque eu tenho uma festa interior
voltada para o grande Amanhã.


publicado por Adelina Braglia às 16:37

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