Se um dia eu acordar valente,
e Rocinante, finalmente, me derrubar,
vou ver que os moinhos não são de vento:
são de terra, areia e mar.
Vou reescrever minha vida,
indo buscar as mangas cheirosas da infância
da casa da minha avó,
e os seus doces da mamão,
e a malhadeira de meu pai,
e o pão caseiro da tia,
e os gnocchis da minha mãe,
e atiro-os todos ao ar!
Livro-me de gostos e cheiros,
abando essa melancolia - e esse enorme prazer! -
de olhar pra traz.
Se um dia eu acordar valente,
faço várias parcerias
nas letras que tanto gosto!
Começo roubando Gil,
pra me convencer a só ser.
Junto-me a Cazuza, e grito:
eu preciso dizer que te amo...tanto!
Desculpo-me com meus filhos,
e os da sua geração, surrupiando Ivan Lins:
perdoem a falta de ar...
E vou-me embora pra Pasárgada,
seguindo Manuel Bandeira,
pra ter o amor que quero,
na cama que escolherei!