Eu falo aquilo que penso
que a palavra pode conter.
Mas o que ela contém, extravasa,
cria pernas, cria asas,
e eu fico olhando pro alto,
vendo os enormes letreiros
daquilo que não falei.
Eu falo quase o que sinto
e vejo as palavras dançando,
rodopiando no ar.
Giram como bailarinas
sem acordes, sem acordos.
Libertam-se do sentido
que tinham quando as criei.
Eu sinto sempre o que falo,
e as palavras tomam fôlego:
nadam para além de mim.