" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

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Dez 05

height=164 alt=bailarina.jpg.bmp src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/bailarina.jpg.bmp" width=92 border=0> (samartaime)

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

Procurando bem
Todo mundo tem... prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt"> Ciranda da bailarina  (Edu Lobo - Chico Buarque – 1982)

















































publicado por Adelina Braglia às 22:54

Quando eu era criança, desenhava com muito cuidado os mapas do Brasil, pensando que a cada contorno errado, eu jogaria as pessoas no oceano que nos circunda! Hoje penso que esse já era um traço da minha persistente presunção e arrogãncia.

Lembrei-me disso agora, porque a vontade é que a vida pudesse ser recomeçada como quando se usa o caderno novo no primeiro dia de aula. Nenhuma marca anterior, nenhum borrão, nenhuma palavra mal escrita.

Mas, aprendi nas sessões de análise que o passado é experiência e acumulação.Não há reparos a se fazer. Não é como um caderno onde se arranca folhas ou escreve-se por cima das antigas palavras ou que se faça uma redação tipo "o-que-eu-quero-ser-quando-crescer". Céus! e como eu já cresci!

A tentativa de arrumar a cabeça escrevendo, não tem sido eficaz, ultimamente. Talvez porque eu escreva sempre as mesmas coisas, me escore sempre nas mesmas justificativas. Ou talvez porque eu tenha tido o privilégio de ter no meu entorno pessoas generosas, capazes de me amar apesar de mim.

Não, não estou com peninha de mim. Estou com raiva. Uma raiva brutal, de quem está enxergando o cais, mas não nada para ele, imaginando que afogar-se, engolir a água salgada até os pulmões arrebentarem, pode ser uma bela e dramática solução! Daria um tango ou um bolero, o meu romance negro.

Como sempre a poesia ou a música me socorrem. Hoje, as duas:

Cadê você (João Donato-Chico Buarque)

Me dê noticia de você

Eu gosto um pouco de chorar

A gente quase não se vê

Me deu vontade de lembrar

Me leve um pouco com você

Eu gosto de qualquer lugar

A gente pode se entender

E não saber o que falar

Seria um acontecimento

Mas lógico que você some

No dia em que o seu pensamento

Me chamou

Eu chamo o seu apartamento

Não mora ninguém com esse nome

Que linda a cantiga do vento

Já passou

A gente quase não se vê

Eu só queria me lembrar

Me dê noticia de você

Me deu vontade de voltar

 


Amar - Carlos Drummond de Andrade

(...) Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor,

um chão de ferro, e o peito inerte,

e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.(...)

publicado por Adelina Braglia às 08:53

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