" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

16
Nov 05

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  Eu, pastora, que apascento

estrelas da madrugada

pelas campinas do vento,

fui falar ao eco antigo,

a cuja voz fui criada,

e que supus meu amigo.


"Sou sempre a de antigamente",

murmurei-lhe, enternecida.

E ele anunciou longe: Mente"


Mas era a minha verdade

e, vendo-me assim descrida,

padeci com a falsidade.


"Eco amigo, eu não te iludo:

pastora sou destes prados

onde se confunde tudo

mas sou de ontem e de agora,

dentro dos despedaçados

instantes de nenhuma hora...


A amargura não me aumentes...

E o eco antigo, infiel e exato,

repetiu-me perto: "Mentes...


" Vergada em móveis espelhos,

vi nas águas meu retrato,

chorei sobre mim, de joelhos.


Mas o gado que pascia

pelas colinas da aurora,

mascando as margens do dia,

veio a mim sem que o esperasse,

lambeu-me os olhos de outrora,

- reconheceu a minha face.

(Cecília Meireles – Pastora descrida)

Obrigada, Gribel.

publicado por Adelina Braglia às 09:00

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