" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

19
Ago 05

O release digital NoMínimo divulga hoje entrevista de Franklin Martins que, com William Waack, forma uma respeitável dupla de jornalistas da TV brasileira (www.nominimo.ibest.com.br).

Cobrindo o Congresso há 20 anos, Franklin tem experiência, sensatez e conhecimento para fazer serenas avaliações que eu, sem as três coisas, perco-me diariamente a tentar fazer - não para convencimento de ninguém, apenas pra ordenar minha própria cabeça - e engolfo-me nas minhas mágoas e rancores. Por isso, vale a pena aliviar meus três leitores da minha angústia, transcrevendo o que ele responde sobre os agentes de mudança nesta crise atual:

“... Eu acho que vai ter de se fazer uma certa repactuação no país, com uma participação muito maior da sociedade em matéria de reforma eleitoral e política. Pela dinâmica das instituições, nós não vamos ter a mudança necessária. Vamos ter ajustes, uma pequena melhoria, como acabar com o showmício, diminuir o tempo de campanha, baratear os programas de televisão, melhorar a fidelidade partidária, mas a questão medular é o nosso sistema eleitoral, que só existe aqui e na Finlândia. E tudo que só existe no Brasil e não é jabuticaba não dá certo. Nosso sistema é muito ruim e, por sinal, foi adotado na maioria das democracias ocidentais, mas foi descartado nos anos 70, 80, porque, em todos os países, produziu algo semelhante: fragmentação partidária, número excessivo de partidos, dificuldade para montar maiorias, deputados donos do seu mandato e franco-atiradores, eleitos sem qualquer controle por parte de eleitores. Os países foram vendo e se afastando. No Brasil, demoramos mais 25 anos porque nós tivemos 25 anos de ditadura. Durante o período da ditadura, a nossa experiência com esse ou aquele sistema era nula, não era para valer. Então, estamos nos defrontando agora com o mesmo problema que a maioria das democracias ocidentais enfrentou nas décadas de 70 ou 80."

Também hoje, no www.terra.com.br , César Queiroz Benjamin engatilha sua metralhadora e denuncia que desde 1994 o PT utilizava recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, para alavancar o grupo de Lula e José Dirceu – a Articulação – e garantir sua prevalência na direção do Partido. Essas declarações são um bom “abacaxi”, pois César não é Roberto Jefferson ou Marcos Valério. A cooptação pela distribuição de recursos é doença antiga no partido. Mas, neste pomar brasileiro, vale mais uma “palhinha” de Franklin sobre a possibilidade de saídas numa repactuação:

 “Quando se faz uma aliança, se estabelece um grau de debate político com esses setores em torno do governo. O que representam PL, PTB e PP? Nada. Com honrosas exceções, são partidos de negócios. O que o Lula fez na prática? “Eu não vou me aliar porque eu não vou ceder espaço, não vou me submeter aos partidos.” Quis cantar de galo. Optou por um governo do PT. Um governo do PT com os penduricalhos. Deu aí umas prebendas aos partidos, um espaço na máquina que, evidentemente, qualquer pessoa sabia que era uma chance enorme de produzir uma máquina de fazer dinheiro, dado o padrão das pessoas que dominavam o PL, o PTB e o PP. Pra mim, não foi surpresa nenhuma que tenha acontecido isso. Seria uma surpresa se não acontecesse. O Roberto Jefferson controlar o IRB, controlar a Eletronorte... Para mim, seria uma surpresa se não houvesse algum assalto aos cofres públicos. Para mim e para qualquer pessoa que conhece o Congresso. O Valdemar Costa Neto, a mesma coisa. O Janene, a mesma coisa. O que o PT esperava? Que eles melhorassem, mudassem pelo contato?"

 Isso lembra a convivência com o PT no movimento sindical rural, no início dos anos 80, onde o partido não sabia que aliança significa exatamente o debate político e as condições e compromissos para que a aliança se consolidasse e se fortalecesse. O PT gostava de vitória ou rendição, o que para ele eram sinônimos. Quando não conseguia uma ou outra, partia pra fracionar o que não havia dominado. A arrogância da “purificação pelo contato” também já era uma doença genética do partido: os canalhas que a ele se rendessem, viravam santos.

A proliferação de associações de pequenos produtores, cooperativas e outros quejandos, algumas lideradas por conhecidos desonestos, contribuíram para transformar muitos sindicatos rurais em instituições enfraquecidas. Não dá pra esquecer o movimento de esvaziamento da CONTAG, e a orientação dos militantes petistas para que os STRs se filiassem a recém criada CUT. A incompreensão das peculiaridades do movimento sindical rural era terrível. Felizmente a CONTAG sobreviveu a todos nós, embora o espaço privilegiado do MST à margem da Confederação ainda seja uma estratégia questionável.

Hoje já penso que ainda falta muita gente para ser ouvida. Ontem mesmo conversando com uma amiga, lembrávamos de Luiza Erundina e Pedro Simon. Mas há outros, sim, o que já dá pra animar a festa cívica da limpeza desse nosso pomar de jabuticabas e abacaxis.

publicado por Adelina Braglia às 10:11

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