" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

05
Ago 05

Eu cultivei os meus sonhos como quem cultiva roseiras.

Vi brotarem os caules, aparei folhas rasteiras.

Cobri a raiz de estrume, cortei os galhos “ladrões",

todo dia reguei os sonhos à espera dos botões.

(O pé não vinga, fiz-lhe as mudas,

construí sua proteção, e esperei o futuro.)

Vem a luta e a ditadura implode as pontes pro sonho.

A gente não desanima: faz atalhos, abre valas,

faz trincheiras, usa bóias, não se afoga!

Alguns dos bons jardineiros, nem sequer sobreviveram,

Recolhi esperanças, velei corpos, - tanto pranto dolorido -

mas espreitei sempre o pé com botões quase floridos.

As mudas se fortaleceram: cai a máscara e eis o futuro!

Mas, de repente, não há rosas.

Há cinismo, frustração, arrogância, engodo e balela.

O jardim vira capoeira.


E agora, da minha janela, converso com o meu cansaço:

não tenho mais sementeiras, não há mais mudas plantadas.

Recolho no meu quintal luvas, ancinhos, rastelos.

Sem raiva, jogo tudo fora.

Não quero ser pós-moderna!

publicado por Adelina Braglia às 08:40

Agosto 2005
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