Eu cultivei os meus sonhos como quem cultiva roseiras.
Vi brotarem os caules, aparei folhas rasteiras.
Cobri a raiz de estrume, cortei os galhos ladrões",
todo dia reguei os sonhos à espera dos botões.
(O pé não vinga, fiz-lhe as mudas,
construí sua proteção, e esperei o futuro.)
Vem a luta e a ditadura implode as pontes pro sonho.
A gente não desanima: faz atalhos, abre valas,
faz trincheiras, usa bóias, não se afoga!
Alguns dos bons jardineiros, nem sequer sobreviveram,
Recolhi esperanças, velei corpos, - tanto pranto dolorido -
mas espreitei sempre o pé com botões quase floridos.
As mudas se fortaleceram: cai a máscara e eis o futuro!
Mas, de repente, não há rosas.
Há cinismo, frustração, arrogância, engodo e balela.
O jardim vira capoeira.
E agora, da minha janela, converso com o meu cansaço:
não tenho mais sementeiras, não há mais mudas plantadas.
Recolho no meu quintal luvas, ancinhos, rastelos.
Sem raiva, jogo tudo fora.
Não quero ser pós-moderna!