A cantata Santa Maria de Iquique, composta e cantada pelo conjunto chileno Quilapayun, é a mais bonita que conheço. Certamente esse “mais bonita” é um juízo de valor muito, muito pessoal. Vou concordar que há outras belas, mas essa é a mais bonita.
A cantata é de um tempo em que ter esperanças não era doença de baixo contágio: era obrigação. Ainda que a repressão, a insegurança e o medo reduzissem - ou ampliassem? - o espectro do sonho.
Iquique é uma cidade portuária do Chile, onde os trabalhadores exploravam o salitre. E, em 1907, em meio a uma greve geral contra as péssimas condições de trabalho, são reprimidos violentamente pelo exército. Ao se refugiarem numa escola - a escola Santa Maria - são massacrados.
Eu tenho o disco, ganhei em 1974. Sim, moçada, D-I-S-C-O - e agora falta só um toca-discos! Isso. Vou providenciar urgentemente a compra de um, pois descubro minhas raridades encaixotadas e não gosto mais de esquecer o que é bom. Mas, o youtube garantiu ouvirmos parte da cantata, Que dira el santo padre, com o Quilapayun na sua nova formação:
E ouve-se depois o canto final e o vibrante refrão:
...unámonos como hermanos que nádie nos vencera..."
Atravessamos aquela década com a firme convicção de que éramos uma américa latina, embora nosso sangue lusitano teimasse em justificar que nos apartássemos de los hermanos. Mas nossa identidade era tão forte - na exploração e na pobreza - que acreditávamos na superação da falta de consanguinidade!
Sob tudo isso, floresceu um movimento sindical pujante, um movimento estudantil que prometia boas lideranças, e eu já não sei mais como foi que perdemos o trem da história. As grandes lideranças desse período que se sobressaíram no século 21 são Luiz Inácio Lula da Silva, pelo movimento sindical, e José Dirceu, pelo movimento estudantil.
Ai, Santo Ambrósio!!!
Vamos lá reviver a história, refrescar a memória, para ter músculos para prosseguir.
PS: Esse post é pra você, Aluísio.