Um chá de hortelã e drops de anis. É o que eu gostaria de ter agora. Mas não os tenho.
Aliás, a hortelã eu tinha até poucos dias. Uma muda com folhas tímidas penduradas num vasinho na cozinha da casa. Murchou. Mas sem o complemento do drops de anis, não me anima a fazer o chá.
A vontade do chá e a saudade do sabor do anis completam esta sensação da presença da mãe, que senti de repente. E que me leva a decolar neste devaneio , deduzindo que foi para ver seus filhos que ela chegou aqui!
O chá de hortelã era para espantar os vermes, certo? O drops de anis era um raro mimo, que tínhamos que fazer por merecer. Quem sabe por isto seu sabor era tão bom.
Havia também um pé de anis junto ao degrau do quarto que dava para o quintal, em frente ao balanço da casa da Girassol. Balanço construído pelo pai, que eu curti mais que meus irmãos, porque construído para mim. E quando eles nasceram e cresceram um pouquinho, mudamos de casa.
O pé de anis dava uma florzinha azul, delicada, que eu gostava de mastigar. O anis é do tempo do anil, que se colocava na água de enxágüe da roupa branca, para deixá-la mais branca e bonita.
Eu tive a sensação da mãe sentar-se aqui ao lado, sem que isso me faça arrepiar ou pensar em assombrações. Como a querer notícias!
Estão aí seus filhos, mãe. Do nosso jeito, demos certo na vida. Cada um de nós persegue sua verdade e mora debaixo da própria cabeça. Os netos que você não conheceu já são oito. Bisnetos? Caramba! São cinco, e há mais um a caminho.
Proteja-os. Abençoe-os. Quem sabe foi isto que você veio me dizer que já faz.
Para me tranquilizar.
Beijo, mãe.