" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

01
Jun 07
Às vezes acordo sem música na cabeça. É muito raro, mas acontece.
Estranho esse silêncio, porque não é de bom augúrio.
A música de fundo que amanhece comigo é um sinal de normalidade dentro do caos. Sem ela, parece que o caos se sobrepôs.
Hoje foi assim.
O gesto mecânico de ligar a TV para ouvir as péssimas notícias do dia,
é um péssimo hábito do qual nunca me livrei.
Presto atenção às primeiras notícias, que são as mesmas de ontem à noite, só mais enfeitadas.
A rebelião na ilha do Governador é a única notícia nova. Nova em relação às da noite anterior.
Penso agora que eu “desliguei” meu rádio quando, já deitada, perdi o sono na madrugada.
E voei pra anos anteriores quando acreditava mover o mundo com meus desejos
de justiça, fraternidade, solidariedade e comiseração pela dor do outro.
Lembrei fatos, cenas, frases. Muitas pessoas desfilaram nesse “memorial da esperança”.
Dormi. Não sei se sonhei. E, ao acordar, esse silêncio e esse vazio musical.
E escrevo isso apenas pra aliviar essa sensação megalomaníaca
de que sou culpada pelo silêncio,
pelos rostos tristes nas ruas,
pelo cansaço infindo dos que trabalham,
pela ausência de brilho nos olhos dos jovens,
pelas crianças precocemente adolescentes,
pelos que mentem, roubam e tripudiam sobre os danos que causam,
pelo futuro que chegou no avesso do que eu queria.
E pra suportar meu silêncio interno,
Ouço Arnaldo Antunes.
A nossa casa.
 
 
Na nossa casa amor-perfeito é mato
E o teto estrelado também tem luar
A nossa casa até parece um ninho
Vem um passarinho pra nos acordar
Na nossa casa passa um rio no meio
E o nosso leito pode ser o mar

A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar

A nossa casa é de carne e osso
Não precisa esforço para namorar
A nossa casa não é sua nem minha
Não tem campainha pra nos visitar
A nossa casa tem varanda dentro
Tem um pé de vento para respirar

A nossa casa é onde a gente está
A nossa casa é em todo lugar
 
 
 
publicado por Adelina Braglia às 07:57

Sensacional! Parabéns, Bia! Às vezes sou meio assim, também.
Simão Cireneu a 1 de Junho de 2007 às 21:50

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