Foto: Rosa Almeida
O que somos além de uma "bacia de almas", presas num cotidiano?
Há almas carregadas por corpos cansados de comer poeira de terra com dono.
Há almas embutidas nos despossuídos e nos "excessivos".
Umas vivem na aridez da seca, outras na cálida fartura do asfalto.
Há almas sutis em corpos perfumados,
há almas brutas em corpos idem.
Mas há os contrários:
almas gentis em mãos calejadas
e almas vorazes em mãos de cetim.
Há almas que contemplam a suavidade do por-de-sol
e há as que somente sentem o seu ardor na pele,
sem poder contemplar-lhe a beleza.
Como é que se faz uma oração pelos desvalidos,
como se roga uma praga nos "excessivos",
como se apela pelos inocentes?
Dando esmolas no farol,
comprando panos-de-prato nas esquinas,
cedendo o lugar aos mais idosos no metro?
Serei assim uma alma de "primeira classe"?
Daquelas que ocuparão um lugar ao lado do Pai?
Pai.
Só se fosse o meu,
que também era mais uma das almas da bacia,
mas que fazia dela uma circunferência especial.
(*) expressão precisa, usada num e-mail, pelo Lúcio Flávio Pinto,
jornalista paraense, e alma especial desta bacia.