" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

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Jan 07

 No domingo,  no Estadão, o Professor Gaudêncio Torquato comenta no artigo Vida nova ao parlamento a disputa entre Arlindo Chinaglia e Aldo Rebelo pela presidência da Câmara Federal, e discute e propõe instrumentos capazes de transformar este arremedo de democracia que vivemos em um sistema efetivamente democrático, representativo e federativo.

 

Leio sempre suas análises, e aprendo sempre com elas,  mas, no meu entender, o professor cometeu desta vez um erro: aponta que "a sociedade brasileira" acompanha os meandros daquela disputa.

 

Quisera eu que assim fosse. Até sei que meia dúzia de três ou quatro acompanhamos, sim. Porém, a "sociedade brasileira" não somos nós, Professor.  Nem mesmo um surto de presunção me levaria a iludir-me com isto, embora compreenda o sentido que você quis dar à nossa esperança de , como uma pequena fração da sociedade, podermos representá-la.

 

A sociedade brasileira acompanha o Big Brother Brasil 7. E nos intervalos, desde sexta-feira, espera notícias sobre se há ou não sobreviventes do desabamento na cratera do metrô. Uns chamariam a isto de solidariedade. Eu tenho dúvidas. Não sei mais qual é o limite entre a solidariedade real e o sado-masoquismo implícito.

 

Os comentaristas dos noticiários de TV apresentam as informações sobre a tragédia e em seguida falam sobre o comportamento da Bolsa de São Paulo, face o feriado da bolsa de Nova Iorque, ontem. Sem mudar o tom de voz, nivelando e igualando as informações. Nem sequer ocorre um brake entre uma informação e outra.

 

Nesse imaginário brasileiro, entre o feriado na bolsa de Nova Iorque, a disputa entre "aliados" do governo, a morte de 7, 8 ou 10 pessoas na cratera, a irreponsabilidade pública e privada de desastres como este - ou como o da lama da mineradora em Minas Gerais - ou se um bigbrother  vai ou não transar ao vivo e em cores, é que transita nossa (des) esperança.

 

E a nossa (des) esperança se aperta nos trens do metro, nos ônibus superlotados, na disputa feroz pela manutenção de um posto de trabalho precário e mal remunerado. E quando chega em casa, muitas vezes já perdeu o Jornal Nacional (feliz ou infelizmente?), a novela já vai pela metade, mas ainda há inserções do show da vida dos brothers, para espiar antes de dormir. Daquela vida estúpida onde não cabe pensar ou discutir como é que se constrói um país, uma nação.

 

Que pena, Professor, que não representemos a sociedade brasileira. Sem ironia.

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 11:48

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