o que difere de gostar, às vezes,
de ser sozinha.
Eu não gosto de chuva fina:
ela me molha a alma
e eu levo muito tempo a enxuga-la.
Eu gosto de temporais,
mesmo quando me fazem sentir medo,
lembrando as lições cretinas
do colégio da infância,
onde me ensinavam que o mundo acabaria
em dias de raios e trovões.
Eu gosto das pessoas comedidas
e invejo as deslavadas.
Mais que isto, amo as transgressoras.
Eu não gosto de afagos sem calor
daqueles beijinhos formais
dados por quem
não tenho a menor vontade de beijar.
Eu gosto de frutas, todas,
e amo algumas verduras,
aquelas de folhas escuras
e nomes lindos:
rúculas, escarolas, espinafres!
Eu não gosto muito de doces,
mas amo sorvetes.
Adoro peixes e massas,
mesmo sabendo que deveria odiar as últimas.
Eu não gosto de olhos que fogem dos meus,
nem de mãos que apertam frouxas,
e fazem de um cumprimento
uma gosmenta e desconfortável apresentação.
Eu gosto de Pierre-Joseph Proudhon
e sei que isto me faz parecer muito antiga,
mas compõe o meu perfil
e aponta as minhas idiossincrasias.
Eu gosto de boleros, jazz e blues.
E amo os poetas,
quase todos os que conheço e
lamento conhecer tão poucos.
E amo os rios
embora reconheça
ter com o mar uma relação quase religiosa,
poderosa, nos termos antigos:
Temo-o!