Não me cobrem nada,
que à vista ou a prazo
nada quero comprometer.
O meu parco patrimônio
foi gasto em estradas, vielas.
cidades e vilarejos.
Como pagamento, vez ou outra
uma galinha ou um saco de macaxeira
e esse pagamento nem era esperado,
mas era sempre bem recebido.
O pagamento melhor sempre foi o riso aberto e o olhar iluminado.
Sim, é claro que ganho para trabalhar
e por isto, só por isto,
meto-me a poetizar a vida.
E não falava do patrimônio material,
que para este,
enquanto eu tiver saúde, pernas, ouvido e boca,
estou me lixando!
Não me cobrem a cota emocional que os equilibrados
sempre têm para dar. Dispenso os conselhos
mas aceitaria um colo disponível para acolher sem perguntas.
Hoje meus cabelos continuam despenteados,
o banho foi uma imposição das noções rígidas de higiene
e a cabeça dói como se dentro dela gemessem todas as dores do mundo.
Se puderem, dêem meu recado
aos que são sãos,
que copio do mais lúcido dos enlouquecidos:
"Ao vencedor, as batatas".