A minha maior amiga me diz que estamos em lados opostos nesta eleição e eu lhe respondi que estamos apenas em trincheiras diferentes. Parece estranho estarmos em trincheiras diferentes, nós que combatemos juntas sempre o mesmo combate.
Pelo carinho que eu lhe tenho, resolvi explicitar minha decisão serena e duradoura de não votar.
Alckmin é, sem dúvida, a expressão mais clara do neoliberalismo. Para ele, o choque de gestão possivelmente não significará redistribuição de riqueza e sim corte nas despesas, sejam elas quais forem.
Lula é a opção de um governo medíocre, em que pese o bolsa-família ter levado o frango para a mesa do miserável e eu não considero isto pouca coisa. Mas enquanto cresce o investimento nesse Programa (53% entre agosto e julho), descresceu o investimento em ações que poderiam efetivamente apontar para mudanças na estrutura, especialmente porque a política econômica do Governo Lula é exatamente a mesma dos governos FHC.
Porém, o Brasil cujo fosso regional foi ainda mais escavado a partir do Governo Collor, hoje aparenta ser cada vez mais fundo e a minha sensação é que jamais seremos uma nação. Minha amiga vive em São Paulo, eu vivo no Pará. Talvez, distante como ela está daqui, tenha perdido a referência do colonialismo brutal com que Brasília trata - e surpreendentemente de forma mais brutal no governo Lula - o norte do Brasil.
Aqui somos os incompetentes, os ladrões, os incapazes, os preguiçosos. E para nos "punir" disto, o presidente Lula vem a Belém em campanha, sobe no palanque com a mais nefasta figura da política paraense - Jader Barbalho - e beija-lhe a mão. Chama este palanque repleto de sátrapas - Paulo Rocha, do PT, deputado federal que renunciou para não ser cassado, Ademir Andrade, do PSB, processado pela Polícia Federal pelo roubalheira ne Cia. Docas do Pará e o sempre nefasto Jader Barbalho - de "aula de sociologia política".
Pensar assim é uma microvisão de mundo, eu concordo. Mas é neste micro mundo que há 30 anos voto reiteradamente no menos pior, incluindo Lula, em todas as eleições a que ele concorreu, à exceção daquela em que Mario Covas foi candidato contra Collor no primeiro turno. No segundo, votei em Lula.
Minha micro visão também priorizou a questão racial e a indígena, nos investimentos do atual Governo e Lula brincou como gente grande nestas questões. Destaque-se que também perpetuou a prática de mentir sobre os resultados da "reforma agrária". Aqui, as metas "fantásticas" alcançadas pelo INCRA devem-se somente à contabilização das famílias ocupantes de assentamentos já há 10, 7, 6, 15 anos e que agora foram beneficiadas pelos créditos fundiários e o INCRA, cinicamente - como já fazia no governo FHC - contabiliza-os como novos assentados.
A minha maior amiga e eu, lutamos e morremos um pouco para que se chegasse a um Brasil diferente deste. Eu não consegui e me restrinjo agora a exercer minha função de agente público, até quando aguentar ou puder. Ela parece ter ainda esperanças e, sinceramente, quero que ela esteja certa.
Meu carinho e minha torcida por ela nao me faz, porém, voltar atrás: nem Lula, nem Alckmin. Que o Brasil se salve sem mim.
E sempre do mesmo lado, aqui da minha trincheira, mando um beijo pra você, Rosa Maria.