" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

24
Out 07
A DS (Democracia Socialista) corrente petista - cuja mairor expressão no Pará é a Governadora - esperneia contra a decisão dos sindicalistas da Corrente Sindical Classista, braço sindical do PC do B, e protesta contra a decisão daquele coletivo de romper com a CUT.
 
Curioso é que a DS, em 2002, minoritária na Confederação, criou uma correntinha lá dentro, batizada de CSD - CUT Socialista e Democrática, que eles mesmos definiam como “uma intervenção de militantes cutistas no processo de superação da insuficiência da elaboração e dos impasses político-organizativos vividos pelo sindicalismo cutista”. Terrivelmente esclarecedor o eufemismo que diz, trocado em miúdos: como não convencemos a maioria ds nossas propostas, agora faremos um guetozinho aqui dentro e a nossa CUTizinha vai combater a Corrente Classista e a Articulação Sindical.
 
O PC do B agiu de acordo com  o tamanho da sua hegemonia: caiu fora e vai abertamente discordar "...da insuficiência da elaboração e dos impasses político-organizativos vividos pelo sindicalismo cutista." É mais honesto.
 
Os meninos e meninas da DS gostam de sofismas! Ou, como dizia minha avó, e minha mãe repetia: pimenta no dos outros é refresco. Já no próprio....dói!
publicado por Adelina Braglia às 13:40

23
Out 07

 

O Afonso voltou. Isso me faz bem.
 
Esclareço a quem me lê comentando alguma coisa no blog dele, que não somos amigos. Não somos. Infelizmente.  Caminhos distantes – geograficamente, inclusive, durante muitos anos – me privaram da chance de conviver com ele e de poder tentar ser amiga do Afonso, honraria que eu carregaria com muito orgulho, do lado esquerdo do peito.
 
Mas, o Afonso Klautau é uma figura que não passa impunemente na frente da gente. Acho que nos encontramos “ao vivo” no máximo dez vezes em 20 e tantos anos. Temos amigos comuns. Por eles fui aprimorando um perfil do AK, que foi ficando mais nítido para além da impressão forte que ele causa na primeira olhada.
 
O Afonso parece um cavaleiro andante e, não por acaso, acho que tem essa sina no nome. Nada magro como Dom Quixote. Os olhos, o andar, a voz, uma engraçada mistura de irritabilidade, melancolia e esperança. E dureza. Aquela, misturada à ternura, que muitos repetem como frase, mas não têm a menor idéia do sentido. Assim desenhei o Afonso nas poucas vezes em que nos encontramos. Assim desenhei na parede dos meus afetos o retrato dele. Sobre ele, a minha presunção de reconhecer pessoas, traçou uma definição: o Afonso é daqueles que a gente ama ou odeia.
 
E Afonso tem a coragem dos bravos. Não sei se ele é bravateiro. Acho que não. Mas, poderia ser: a bravata cabe bem quando emoldura a verdadeira coragem. E quem não tem coragem para enfrentar seus pequenos demônios, não a tem para coisa alguma.
 
Bem vindo, Afonso. Que bom que você foi fundado e resiste.
 
O poema é pra você.
 
“Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo
Teadoro (...)”
(Neologismo - Manuel Bandeira)
publicado por Adelina Braglia às 09:16

22
Out 07

 

É fácil compreender as prioridades do Governo se a par dos discursos e das bravatas, a gente olha a execução do orçamento.
 
Na verdade, minha curiosidade começou com a manchete de hoje da Folha on-line, informando que o Judiciário gastará 1,2 bilhões para construir três tribunais. Caramba! E eu que pensei que com 1,2 bilhões se construiria, só para ficar no ramo, cerca de vinte unidades descentralizadas de Justiça ou umas quinze sedes para instalar as Varas Agrárias e as Defensorias Públicas!
 
Fui verificar o que isso significava no conjunto das ações de apoio ao Judiciário e  descubro que o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça e  a Justiça Federal já conseguiram empenhar e autorizar entre 50% a  72% de seus orçamentos.
 
Aproveitando a consulta, dei uma olhada no resto. Descubro que se a Justiça está bem aquinhoada, o Bolsa Família também, num vistoso programa denominado Transferência de Renda com Condicionalidades, que já teve autorizado 74% do seu orçamento anual.
 
Abaixo da linha de pobreza orçamentária estão o Microcrédito Produtivo Orientado, o apoio ao Desenvolvimento Urbano de Pequenos e Médios Municípios, empatados com zero por cento. Os programas Desenvolvimento da Educação Infantil,  Esporte e Lazer na Cidade, e Inclusão Digital, trafegam entre 0,20% e 0,80%.
 
Os Serviços Urbanos de água e esgoto, o Reaparelhamento e Adequação do Exército Brasileiro e a Competitividade das Cadeias Produtivas, mais aquinhoados, ficam entre 1% e 3%. A Atenção Especializada em Saúde e o Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais, quase chegam a 5%!!!
 
O Brasil Alfabetizado (aquele que vai reduzir drasticamente a taxa nacional de analfabetismo), a Prevenção e Combate à Violência contra as Mulheres e o Crédito Fundiário, não passam dos 10%, mas quase chegam lá.!
 
Ah! Onde está o programa Desenvolvimento do Sistema Financeiro Nacional? Tranqüilize-se. Pertinho do Bolsa Família, longe da linha de pobreza orçamentária: 73%.
 
Bom dia para vocês.
PS: tá, Santo Ambrósio! Já sei que o senhor nada tem a ver com orçamentos públicos brasileiros.
 
publicado por Adelina Braglia às 09:13

20
Out 07

 

 

Um chá de hortelã e drops de anis. É o que eu gostaria de ter agora. Mas não os tenho.
 
Aliás, a hortelã eu tinha até poucos dias. Uma muda com folhas tímidas penduradas num vasinho na cozinha da casa. Murchou. Mas sem o complemento do drops de anis, não me anima a fazer o chá.
 
A vontade do chá e a saudade do sabor do anis completam esta sensação da presença da mãe, que senti de repente. E que me leva a decolar neste devaneio , deduzindo que foi  para ver seus filhos que ela chegou aqui!
 
O chá de hortelã era para espantar os vermes, certo? O drops de anis era um raro mimo, que tínhamos que fazer por merecer. Quem sabe por isto seu sabor era tão bom.
 
Havia também um pé de anis junto ao degrau do quarto que dava para o quintal, em frente ao balanço da casa da Girassol. Balanço construído pelo pai, que eu curti mais que meus irmãos, porque construído para mim. E quando eles nasceram e cresceram um pouquinho, mudamos de casa.
 
O pé de anis dava uma florzinha azul, delicada, que eu gostava de mastigar. O anis é do tempo do anil, que se colocava na água de enxágüe da roupa branca, para deixá-la mais branca e bonita.
 
Eu tive a sensação da mãe sentar-se aqui ao lado, sem que isso me faça arrepiar ou pensar em assombrações. Como a querer notícias!
 
Estão aí seus filhos, mãe. Do nosso jeito, demos certo na vida. Cada um de nós persegue sua verdade e mora debaixo da própria cabeça. Os netos que você não conheceu já são oito. Bisnetos? Caramba! São cinco, e há mais um a caminho.
 
Proteja-os. Abençoe-os. Quem sabe foi isto que você veio me dizer que já faz.
 
Para me tranquilizar.
 
Beijo, mãe.
 
publicado por Adelina Braglia às 14:31

 

Uma coluna já cansada de me carregar e um tombo foram bons motivos para uma ausência, um “tilt”, um “break”.
 
 O desconforto de ficar sentada escrevendo prejudicou a vontade que já andava fraquinha, pois escrever é resumir os letreiros que correm dentro da minha cabeça e eles andavam rodando lentos e confusos a ponto de sequer me dispor a filtrá-los. Uma conveniente soma de fatores.
 
Na verdade, o parágrafo acima é presunção pura. Creio que ordenar minha cabeça é tarefa na qual jamais me empenhei. No máximo, tiro a poeira das prateleiras, arrumo uma lembrança aqui, outra acolá, tento jogar fora algumas que apenas fazem peso sem significar nada e colocar outras recentes. E torcer para conseguir conviver com as boas e as más lembranças sem muitas culpas.
 
E, como a canção abaixo, acho que não há nada como um outro dia. Não necessariamente solitário.
 
Não sei. Vamos ao sábado. Com poesia. E música.
 
 
 
 
" Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
 
 
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
 
 
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
 
(Herberto Hélder)
publicado por Adelina Braglia às 11:37

13
Out 07

 

 

 Amanhã, domingo, " ...enquanto a corda avança e o corpo se cansa só para a alma descansar..." a Nossa Senhora de Nazaré vai levitar sobre o mar de fé dos paraenses.

A fé é tanta que um pouco dela todos os anos respinga em mim.

 

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 16:45

10
Out 07
 

 

 

www.verdevagomundo.com.br

  

  

Certamente é a proximidade do Círio de Nazaré que me faz menos presunçosa e me aquinhoa de uma pequena dose de humildade, trazida pelo cheiro do tucupi e da maniçoba por sobre as casas e quintais.
 
Certamente é uma saudade também real, para além do sentimento do Círio, que me fez querer dizer aqui, como se fosse alto e a bom som para o meu amigo, companheiro de jornadas, poeta, escritor e amazônida Benedicto Wilfredo Monteiro, que eu o quero bem.  Muito mais do que consigo demonstrar, eu e as minhas prioridades invertidas e confusas.
 
Um abraço apertado, Bené, carinhoso, com cheiro de patchouli, com gosto de tucupi, amoroso como a sua Alenquer.
 
A canção é para você, Bené. Pelo amigo que você foi e é, pelos amigos que perdemos e pelos que ganhamos. Pelos que estarão sempre conosco, ainda que, como eu, sejam tão relapsos nas demonstrações de afeto.
 
Um beijo.
 
 

 

publicado por Adelina Braglia às 19:14

06
Out 07
 
 
Eu descobri hoje que desafio o tempo por medo dele.
Parece tão óbvio que me sinto idiota por ter que concluir isso.
A partir disto, a eterna sensação de ser inadequada ao meu tempo, pareceu acalmar-se.
Não é, afinal, uma mera questão de inadequação. É uma questão de insubordinação,
ainda que isso não tenha o tom heróico que eu gostaria que tivesse.
 
O medo do tempo é assim um bom motivo para tentar driblá-lo,
para não encara-lo de frente, e até virar-lhe as costas sempre que possível.
 
Sempre tive um sentimento envergonhado, guardado a sete chaves:
acredito que o passar do tempo não altera sensações, alegrias e raiva.
Apenas aprendemos a ser comedidos, “adequados” ao nosso tempo.
Pensava, até hoje à noite, que isso era anormal, como ter quatro mãos!
Descubro, com o sentimento de medo do tempo, que isso é resistir à sua passagem,
conservando sensações como compotas de manga dos armários da minha avó.
 
Nunca me incomodou perceber no rosto, nas mãos ou nos cabelos que os anos passavam e passavam. De repente hoje, num gesto trivial, olhei minhas mãos que acompanhavam minha fala e as desconheci.
 
Mãos cansadas. Ágeis ainda, como o bom sangue italiano determina para quem as usa para falar, mas cansadas. Não as achei feias. Apenas cansadas.
As mãos com que afaguei ontem os cabelos da minha neta pareciam mais jovens.
E percebi nelas, mais do que em qualquer outra parte do corpo, as tatuagens que o tempo deixou, ainda que eu me escondesse dele.
 
 
 
 
 
 
 
A letra, para quem não fala português...rsrsrs...
 
 
 

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão

 
 
 (Tatuagens - Mafalda Veiga)
publicado por Adelina Braglia às 22:44

05
Out 07
 

 

A meia-sola que a decisão do STF sobre de quem é o mandato colocou nos nossos sapatos, ainda deixa o frio entrar pela ponta dos dedos. Mas é melhor do que o buraco no meio da sola, que permitia a troca de partidos com a mesma futilidade como quem troca de camisa. Meia-sola porque não definiu diretamente que o mandato pertence ao partido e remete a decisão para o Supremo Tribunal Eleitoral onde marchas e contramarchas podem levar meses e livrar alguns santinhos da punição.
 
Embora no senado federal já exista uma emenda para salvaguardar os marreteiros que têm mandato em benefício próprio, vamos caminhando, com meia-sola e tudo, para construir partidos e não free-shops ou lojinhas de conveniência.
 
 
publicado por Adelina Braglia às 14:26

01
Out 07
Dia Internacional do Idoso.
 
Ser idoso – ou quase – é uma imposição. A qualificação – terrível ou suportável – cada um faz a sua.
 
Detesto essa história de “melhor idade”. Cheira a consolo perverso. No caso brasileiro, cheira a cinismo. Ser velho por conta do INSS e do SUS é muito diferente da velhice amparada pelo sistema público de aposentadorias e pensões e de assistência à saúde em Barcelona!
 
Reconheço que ser velho hoje é menos cruel, os recursos para prolongar a vida útil são inúmeros. Mas, ainda que cremes, silicones, botox, alimentação saudável, exercícios, caminhadas, o escambau e muito amor posterguem o envelhecimento, o fato é que o tempo corrói, gasta, exaure.
 
Embora morrer seja contingência da vida, é muito chata a idéia da morte. Desagradável. Sacana até. E essa sensação é contraditória, pois o cansaço vem, mas não a vontade de sair do barco.
 
Acho que esse é o papel da velhice. Vem para nos preparar ou nos convencer que é preciso cair fora da vida. Imagino que não se carregue saudades e que as que ficam entre os que nos amam, com o tempo amainam, tornam-se rotina, como o nascer do sol, o cair da noite. Foi assim comigo e com as minhas perdas. E eu amava muito os que perdi.
 
A velhice traz saudades do que não fomos ou não fizemos. Traz impaciência para com os mais jovens, impaciência que acoberta a inveja do que eles ainda poderão sonhar e fazer. A tal experiência que temos é nostálgica., chega a ser amarga em alguns momentos,  quando se sabe que não se vai mais ter tempo para usar tanta sabedoria acumulada!
 
E por isso exigimos com tanta veemência que os jovens nos respeitem. Acho que a isso se chama vingança....rsrsrs....
 
Mas, para consolo, tenho uma certeza: prefiro envelhecer neste século a ter nascido no tempo em que chamavam todas as velhinhas de vovó. Nestes tempos modernos estamos incluídas numa categoria nebulosa, aparentemente mais jovem: somos todas tias.
 
Mas, se fica na boca um gosto de ternura, a gente suporta, Rosa Maria.
 
 
publicado por Adelina Braglia às 08:02

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