" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

30
Nov 06

 

Há saudades mudas, cegas, surdas, sem cheiro e sem cor.
Essas são saudades nascidas de lutos.
Mas...
 
Há saudades coloridas.
Há saudades musicais.
Há saudades que deixam gosto na boca.
Nem que seja na boca do estômago,
de tanto que doem.
 
Toda saudade contem a memória do tato,
e algumas deixam no ar o cheiro das maças.
 
 
 
 
 
(...) Pedra que lasca seu brilho
e queima no lábio
um quilate de mel
e que deixa na boca melante
um gosto de língua no céu.
Luz, talismã,
misterioso Cubanacã
delicia sensual de maça
saborosa manhã...
Vou te eleger
vou me despejar de prazer
essa noite o que mais quero é ser
mil e um pra você (...)
 
(Jade – João Bosco)
 
publicado por Adelina Braglia às 23:33

 

 

 

QUANDO VOCÊ PASSA 3, 4 DIAS DESAPARECIDA
ME QUEIMO NUM FOGO LOUCO DE PAIXÃO
OU VOCÊ FAZ DE MIM
ALTO RELEVO NO SEU CORAÇÃO
OU NÃO VOU MAIS TOPAR FICAR DEITADO
MOÇO SOLITÁRIO, POETA BENQUISTO
ATÉ VOCÊ TORNAR DOENTE
CANSADA, ACABADA DAS CURTIÇÕES OTÁRIAS


QUANDO VOCÊ PASSA 3, 4 DIAS DESAPARECIDA
SUBO DESÇO DESÇO SUBO ESCADAS
APAGO ACENDO A LUZ DO QUARTO
FECHO ABRO JANELAS SOBRE  A GUANABARA
JÁ NÃO PENSO MAIS EM NADA
MEU OLHAR VARA VASCULHA A MADRUGADA


ANJO EXTERMINADO
OLHO O RELÓGIO ILUMINADO
ANÚNCIOS LUMINOSOS
LUZES DA CIDADE
ESTRELAS DO CÉU
ME QUEIMO NUM FOGO LOUCO DE PAIXÃO


ANJO ABATIDO
PLANEJO LHE ABANDONAR
POIS SEI QUE VOCÊ ACABA SEMPRE POR TORNAR
AO MEU LAR
MESMO PORQUE NÃO TEM OUTRO LUGAR
ONDE PARAR

 

(Anjo exterminado - Jards Macalé e Wally Sailormoon)

 

publicado por Adelina Braglia às 22:28

29
Nov 06

 

 

A foto é da Rosa.

 

Não há o que me acalme, se dou de cara comigo.
Contesto-me. Esteja bem ou mal. Quase nada me faz relaxar. A par disto, adoro o sorriso da Bia.
Amo meus irmãos, os dois de sangue, as três “postiças” - mais reais e presentes na minha vida do que elas imaginam – e os amigos. Não tantos, mas seletamente maravilhosos. Cá e lá. Na linha e abaixo da linha do Equador. Para ser politicamente correta, amigos e amigas.
Amo a poesia e a maioria dos poemas que conheço e os que ainda quero conhecer, pois sei que os amarei, a maioria deles, mesmo que ainda  não os conheça. É  quase impossível não gostar de poemas.
Amo a música. A música me acalma, me excita, me faz descansar, me acorda, me faz dormir, me traz prazer, tesão, melancolia. A música é o meu caleidoscópio sentimental.
Tenho medo do mar, mas a relação com ele é forte. E me emociona sempre um pôr-do-sol nas águas, sejam do mar, do Tocantins ou dos pequenos igarapés que já percorri.
Amo meu trabalho, embora vá deixá-lo daqui a 29 dias. Depois que isto acontecer, vou aceitar que transpus o paredão, como diz Torquato Neto ali embaixo.
Adoro sorvetes, bombons de chocolate, peixe  - frito ou grelhado. E, infelizmente , dado que por causa disto jamais serei uma figura esbelta, os carboidratos me alucinam! Todos. Pães, macarrões, tortas salgadas, pastéis. Dispenso apenas os bolos. Deles não faço questão, a não ser os de fubá. Mas gosto muito, muito de frutas e verduras. Especialmente dos abacaxis, das mangas, das rúculas e dos tomates.
Os debates da minha cabeça nem sempre são interessantes. No geral, causam-me dor. A dor que se transfere para o corpo, especialmente para o joelho esquerdo. Ou que explode em pequenas manchas roxas que a madrinha dizia  “ são de melancolia”. E aquela palavra mágica me fazia sempre lembrar de...tangos e boleros! Na infância e na adolescência a palavra melancolia estava sempre associada a Carlos Gardel ou a Augustin Lara!!!  Céus, como estou antiga!
Hoje, quando elas afloram no corpo, como agora, eu as olho severamente, sem a condescendência da infância. E sei que melancolia não é uma licença poética da minha madrinha. É uma doença da alma.
Divirjo de mim com tanta freqüência que chego a ouvir as acaloradas discussões entre as minhas personagens, dentro da cabeça. Somos atualmente só duas. Uma que me defende, outra que me ataca, esta sempre mais feroz e quase sempre vitoriosa nas discussões. Ana nos administra no ringue da psicanálise e, às vezes, tenho impressão que é ela quem sai do ringue com as  escoriações das quais eu consegui me esquivar!
Não, nunca me aplaudo, vença quem vencer. Quem sabe esta seja a única demonstração concreta de que a minha arrogância tem limites: não me aplaudir.
Afora isso, hoje vou ouvir o Arthur Nogueira cantar. Voz suave, mas que adentra a  pele de quem ouve, estremecendo e arrepiando a alma. Arthur é o filho mais novo do meu amigo Paulo -  e da Marizes, lógico! - e “afilhado” do meu amigo Antonio Maria.  E isso é bom, muito bom. Que felizarda sou eu!
Se você me leu antes das 20:00 horas, está em Belém, Pará, Brasil, vá ao Teatro Margarida Schiwazappa. Nos veremos lá, nem que chova canivetes. Ou suco de cupuaçú, pra dar um gosto regional à chuva!

 

(*) Beijão, Sotavento!

 

publicado por Adelina Braglia às 18:21

28
Nov 06
YELLOW

You are very perceptive and smart. You are clear and to the point and have a great sense of humor. You are always learning and searching for understanding.

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Mas fiz, refiz, tirei dúvidas e não consegui mudar de cor!!!

 

 

publicado por Adelina Braglia às 19:40

 

Caramba!

Se eu soubesse colocar música, estaríamos ouvindo  David Byrne, como fundo musical para o poema do Torquato:

..." I'm breathing in
I'm breathing out
So slip inside this funky house
Dishes in the sink
The TV's in repair
Don't look at the floor
Don't go up the stairs
I'm achin'
I'm shakin'
I'm breakin'
Like Humans Do"...

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 15:36

 

Sempre subindo a ladeira do nada,
topar em pedras que nada revelam.
Levar às costas o fardo do ser

e ter certeza que não vai ser pago.

Sentir prazeres, dores, sentir medo,
nada entender, querer saber tudo.
Cantar com voz bonita prá cachorro,
não ver ‘‘PERIGO’’ e afundar no caos.

Fumar, beber, amar, dormir sem sono,
observar as horas impiedosas
que passam carregando um bom pedaço
da vida, sem dar satisfações.

Amar o amargo e sonhar com doçuras
saber que retornar não é possível
sentir que um dia vai sentir saudades
da ladeira, do fardo, das pedradas.

Por fim, de um só salto,
transpor de vez o paredão.
(Cidadão comum - Torquato Neto)
publicado por Adelina Braglia às 12:46

 

Quem sabe se  falarmos sobre o "embranquecimento da riqueza",  alguém preste atenção...

 

 

O rendimento das famílias brancas é 2,3 vezes superior (R$ 481,6) ao das famílias afrodescendentes (R$ 205,4) e a distância dos rendimentos manteve-se inalterada ao longo dos últimos 10 anos.

 

 Os brancos correspondem a 36% dos pobres e 31% dos indigentes. O negros são 64% da população pobre e 69% dos indigentes.

 

O analfabetismo funcional (quem tem até 3 anos de estudo) incide sobre 40% dos brancos e 55% dos negros.

 

A taxa de analfabetismo para os que têm 15 anos e mais,  é 8,3% para as pessoas brancas. Para os negros, 19,8%.

 

O jovem branco com 25 anos de idade tem  escolaridade média  de 8,4 anos. O jovem negro, 6,1.

 

 

publicado por Adelina Braglia às 10:42

27
Nov 06

 

... porque no meu blog a Semana da Consciência Negra vai até o dia que  me apetecer....

 

Por mais profunda e determinante que seja a influência do sistema de produção na criação da cultura, recuso-me a acreditar que bastará possuirmos uma indústria pesada e vivermos livres de qualquer imperialismo econômico para que desapareçam as nossas distinções.

(Octávio Paz)

 

 

Todo mundo tem direito à igualdade quando a diferença não discrimina. Todo mundo tem direito à diferença quando a igualdade não dá conta.

(Boaventura de Souza Santos)

publicado por Adelina Braglia às 19:08

 

Lembrei dos bordados delicados que minha mãe insistia que eu aprendesse.
Eu, talvez porque esse era meu único “poder” contra ela, recusava-me a fazer. Ou melhor: fazia-os propositalmente mal feitos. Embora me desagradasse muito ver os pontos em desalinho, uns apertados e outros frouxos, eu os fazia assim. Para provocá-la.
Os bordados devem ter povoado algum sonho recente, pois não há porque me lembrar deles à toa. Mas, faço agora associações - estas sim, devem estar presas na minha arrogante vontade de sempre saber quem, porque e o que sou, ao invés de ser – e me vejo bordando e rebordando a vida, apertando demais os “pontos” ou afrouxando-os a ponto de perderem a forma e a nitidez.
Quando a mãe me fazia desmanchar o bordado para corrigir o mal feito, atravessava a rua e ia à casa da madrinha. Pacientemente ela desfazia os pontos para mim e suas mãos pareciam mágicas de tão ágeis. Depois ela subia a pequena escada que dava para a cozinha e fazia “pão chiado”. Ela os chamava assim porque o barulho da manteiga, derretendo na frigideira, fazia um chiado leve.
E ali, sentada na escada, ouvindo o chiado do pão na frigideira e sentindo o cheiro gostoso, eu refazia rapidamente o bordado. Sem dor, sem raiva.
De repente, desfaço a compreensão inicial: talvez eu não pretendesse provocar a mãe. Talvez eu quisesse apenas uma boa desculpa para atravessar sempre a rua e ter o carinho expresso da madrinha, escancarado no abraço de sempre, no desfazer dos nós, no cheiro do pão e no calor da manteiga.
E como esta sessão explícita de terapia é das mais honestas que já fiz, queria hoje voltar à escada, refazer os nós, sentir o cheiro do pão chiado e dizer a ela da saudade dos seus olhos doces e da sua imensa ternura de me ensinar a desfazer os nós e a refaze-los com a beleza que eu era capaz, para que eu compreendesse sem castigos ou discursos que a vida podia ser bordada caprichosamente.

Um beijo, madrinha. Sinto falta das suas mágicas mãos.

publicado por Adelina Braglia às 11:13

 

 

Quero só que o sono venha rápido e desligue a minha voz
que cantarola  Cartola:
 
“...solte o teu som da madeira
eu, você e a companheira
na madrugada iremos pra casa
cantando......”
publicado por Adelina Braglia às 02:42

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