" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

31
Out 05

Um curto passeio ao Brasil que se pensa civilizado e à margem do brasil real. Volto. Breve. Mas, enquanto isso, música, ou melhor, a poesia silenciosa da música sem som. Viva Paulinho! Viva Hermínio!


Amar é um dom, há que saber o tom

e entoar bem certo a melodia.

O povo enxerga a luz de uma voz sincera

e canta com ela em sintonia.

Cantar é uma luz, um enfunar de velas

é compreender a canção como um navio

que vai zarpando, ignorando mapas

tocando as águas que nem harpas

por conta do destino.

Compor, saibam vocês, é mais que um desatino

é esmiuçar a dor, fio a pavio

ofício que deságua o sofrimento.

É escoar-se inteiro como um rio

e eu me ponho a compor feito um cigano

que busca noutra luz seu próprio lume

e me pergunto quem é mais insano

se eu, um rouxinol

se tu, um vaga-lume


Cantoria (Paulinho da Viola - Hermínio Bello de Carvalho)

publicado por Adelina Braglia às 11:12

27
Out 05

height=342 alt=paneiros.jpg src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/paneiros.jpg" width=456 border=0>

Não, não são negros os frutos do açaizeiro. São roxos, cor de violeta, às vezes acinzentados pela poeira das palhas do cacho, na coleta.

Os açaizais cobrem as margens dos rios, ocupam as várzeas. Seus frutos alimentam com o sumo, seus caroços enfeitam colares, adubam a terra. São abençoados. Por isso, são pérolas.

Pérola negra é mera licença poética.

publicado por Adelina Braglia às 07:53

26
Out 05

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente,

 e a pele translúcida há muito se manchou.

Há rugas onde havia sedas,

sou uma estrutura agrandada pelos anos

e o peso dos fardos bons ou ruins.

(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo o que perdi:


dou-te os meus ganhos.

A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,

busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.

Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:

esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,

com mais paciência e não menos ardor,

a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais,

a dar-te regaço de amante e colo de amiga,

e sobretudo força — que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés

 — mesmo se fogem —

retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços

mas o sonho interminável das sereias.

(Lya Luft – Canção da plenitude)


 


Eu temo muito o mar, o mar enorme,

Solene, enraivecido, turbulento,

Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;

O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o largo mar, rebelde, informe,

De vítimas famélico, sedento,

E creio ouvir em cada seu lamento

Os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,

No seu dorso feroz vou blasonar,

Tufada a vela e n'água quase assente,

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,

Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,

Escarro, com desdém, no grande mar!

(Cesário Verde – Heroísmos)


 


(...) Ao entardecer, debruçado pela janela,

e sabendo por cima dos olhos que há campos em frente,

leio até me arderem os olhos O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele!

Ele era um camponês que andava preso em liberdade pela cidade.

Mas o modo como olhava para as casas, e

 o modo como reparava nas ruas,

e a maneira como dava pelas pessoas, :

é o de quem olha para as árvores, ,

e o de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando 

e vê que está a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza

que ele nunca disse bem que tinha,

mas andava na cidade como quem não anda no campo 

e triste como esmagar flores em livros e pôr plantas em jarras...

(Alberto Caeiro – trecho de O guardador de rebanhos)

publicado por Adelina Braglia às 07:39

25
Out 05

Caminhar em terreno minado,

vislumbrar entre as nuvens a possibilidade do sol.

Repartir o único patrimônio que tenho: o conhecimento,

parco, ralo, não superior ao conhecimento alheio,

 mas em algumas coisas, mais amplo ou diverso do que o saber ingenuo

 que alguns carregam na sua trouxa de roupas.

Sentir-me herói e canalha ao mesmo tempo.

Privilégio ou sina.

Olhar minhas pegadas no chão e duvidar delas, sempre.

Lucidez, talvez.


 

publicado por Adelina Braglia às 05:44

height=360 alt="vila nova.jpg" src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/vila nova.jpg" width=480 border=0>

O Brasil pós referendo desconhece, na sua maioria, o que referendou.

A decisão contra ou a favor da comercialização de armas, mal orientada por uma questão mal formulada, acachapada pela mídia competente dos que eram a favor, garantiu o voto maciço em não se sabe o quê, apoiando os poucos que sabiam o porquê.

Enquanto isso, um pequeno pedaço do brasil real discute o controle sobre sua terra e o destino da sua escola. Sim, porque essa cena é uma tomada de uma reunião num similar de escola: paredes rotas, piso de terra batida, professores que superam a falta de remuneração digna, a falta de lápis e cadernos, quando não da merenda, nem sempre diária. Aos seus cuidados estão crianças cujos pais sonham que a escola vá  ensinar aos filhos as artimanhas de sobreviver ao presente e as que permitirão chegar ao futuro.

Esse mesmo futuro que o referendo garantiu que poderá lhes ser roubado pela violência generalizada ou pela bala perdida.

Tá certo. Hoje não amanheci bem. 

publicado por Adelina Braglia às 05:31

20
Out 05

height=360 alt=Oeiras src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/Oeiras" width=480 border=0>

A escada separa as canoas. Ou separa o rio da margem. Ou separa o homem da água. Ou os une: canoas, rio e margem, homem e água.

A liga entre o real e o imaginário depende das respostas. Ou não.

Melhor comer chocolates, como manda o grande Pessoa.

 

publicado por Adelina Braglia às 07:58

height=346 alt=Baiao src="http://travessia.blogs.sapo.pt/arquivo/Baiao" width=461 border=0>

O sol que nos protege. Nome de um belo filme. Pano de fundo da vida real de homens e mulheres neste Brasil tão alagado e tão árido. O sol não tem culpa. Nós temos

Uma cidade qualquer, como disse Drummond. Uma vida qualquer, um cansaço qualquer. Um sentar, alheio ao caminho que ainda falta fazer ou atento ao cansaço de ter que percorrê-lo. Um instantâneo que captura a alma. E o sol, ao fundo.

PS. Mercúrio interfere na comunicação entre as pessoas, diz minha amiga Márcia. Mas, para os que falam português, isso é superável.

publicado por Adelina Braglia às 07:37

17
Out 05

 


Um buraco redondo,


uma lua,


ou buraco quadrado,


oval, sextavado,


um oco no peito.


Uma dor,


presente ou ausente,


distante ou ao lado,


uma dor sem remédio,


ocupa o buraco de qualquer formato,


preenche,


transvaza,


derrama


e não passa.


Uma dor sextavada,


redonda ou quadrada,


de qualquer formato,


de lua, talvez,


ocupa os espaços,


se espraia,


transborda,


e não passa.


 

publicado por Adelina Braglia às 22:28

13
Out 05
Meu tio Cabral me ensinou «Quem espera sempre alcança»!

Vc, sem culpa no assunto, imagino que estará pensando: «Lá vem o danado do Cabral!»

Mas desta vez acrescenta:

«Uai!... inda bem, ué! Oi Cabralão! Tou gostando de verrrrr vc!»


Bom regresso a casa e uma abração... do verão (só para quem fala português...!)

(Samartaime)
publicado por Adelina Braglia às 06:55

11
Out 05

 


Mocajuba - menino.jpg


 


ZUMBI + 10


 II MARCHA CONTRA O RACISMO, PELA IGUALDADE E A VIDA.


 


A II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida é uma iniciativa do movimento


 negro Brasileiro e se constitui num ato de indignação e protesto contra as condições


 sub-humanas em que vive a população negra deste país, em função dos processos


 de exclusão social determinado pelo racismo e a discriminação racial presente em


nossa sociedade.


 


Diante dessa realidade e ciente de que se faz necessária a ação política do


movimento negro e sua presença nas ruas lutando contra o racismo, por mudanças reais


no nosso país, convoca para o DIA 22 DE NOVEMBRO DE 2005, data em que celebramos


os noventa e cinco anos da Revolta da Chibata, comandada por João Candido,


o almirante  negro, a II Marcha Zumbi + 10 - Contra o Racismo, Pela Igualdade e a Vida.


 


Uma marcha que será integrada por todos os setores da sociedade disposta a


fortalecer um amplo movimento por mudança que consiga concretizar os sonhos


 por soberania e preservação de nossos territórios, de nossas religiões, de nossa cultura,


de nossas identidades e orientação sexuais, de nossos projetos de vida por um


novo Brasil sem racismo, justo e igualitário.


(extrato do Manifesto ZUMBI + 10)


 


 


Comitê Impulsor Zumbi + 10 - II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida:


Agentes Pastoral Negros do Brasil - APNS; Articulação Nacional do


Coletivo de Empresários Negros Afros – Brasileiros/ANCEABRA;


Centro Nacional da Cidadania Negra; Comissão Nacional Contra Discriminação Racial


da Central Única dos Trabalhadores - CNCRDR/CUT; Conselho Nacional de Yalorisas,


Egbomis e Ekédis Negras; Coordenação Nacional de Entidades Negras - CONEN;


Fórum Nacional de Mulheres Negras; Instituto Nacional da Tradição e


Cultura Afro – Brasileira/INTECAB; Movimento Nacional Fala Bantu;


 Movimento Negro Unificado - MNU; Pastoral Afro; Setorial de Negros e Negras


 da Central de Movimento Populares - CMP; União de Negros Pela Igualdade –


 Unegro;  Juventude e Quilombolas.


Comitês Estaduais; RS, SC, SP, MG, ES, RJ, MS, MT, GO, DF, TO, BA, SE,


PE, PI, CE, MA, RO, RN, PA, AP, AM.



 


 


 


publicado por Adelina Braglia às 09:44

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