Não me venham com tratados de bem viver,
nem com as otimistas possibilidades de ser feliz.
Sou de um tempo em que felicidade era fruto da esperança coletiva
e o bem estar individual não se sobrepunha à tarefa.
Tarefa tal qual a descreve Geir Campos:
Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
Cansei de disfarçar como se fosse minha a culpa de não ser feliz onde a tristeza, o tédio, e a angústia e a raiva disseminada nos olhares e nos crimes insanos cometidos todos os dias nas ruas, grassam como ervas daninhas.
Não há Pondera que dê conta.
Ainda gosto de música - que quase não ouço -
e de amigos e sorvetes.
Mas estou cansada de ser cordial com este tempo de devastação. E começo a descrer do “ mundo novo e muito mais humano”.
E me exasperam os que fazem de conta que estamos todos bem.