A coalizão nacional PT-PMDB é da economia interna dos partidos que a compõem, e na nossa democracia não-participativa, não há esperneio cabível. Compete à coalizão decidir suas partilhas e ponto.
Se é assim, compete ao PMDB brigar pelo quinhão que lhe apetece e ao PT e ao Presidente da República aceitar, ou não, as indicações, ou melhor, os nomes indicados, pois que a partilha está sacramentada nos acordos pré-eleitorais. E não interessa o que você e eu achamos da partilha. A aliança foi feita e venceu com larga maioria a eleição.
Assim, a indicação trombeteada de 5 ministros do PMDB e a entrega de 90 bilhões do orçamento nacional ao partido, é democraticamente inquestionável. E houve tempo, três meses pelo menos, a contar de dezembro, para a escolha dos nomes e para o jogo manjado do Presidente fazer de conta que ouve seu partido e seu partido tentar espernear para aumentar seu próprio quinhão. Ponto, outra vez.
A indicação do Ministro da Agricultura desencadeou imediatamente denúncias na imprensa. Mesmo sem elas, eu estranhei que fosse para o ministério o homem do agrobusiness, mas isso não é da minha alçada.
As denúncias estavam disponíveis, organizadas, arrumadinhas, no site Transparência Brasil (o link está aí ao lado), mas nem o Presidente, nem o PMDB, nem os aliados, preocuparam-se em desmenti-las previamente – aliás, para desmenti-las o foro é o STF, onde o deputado está sendo processado. Em caso de dúvida, bastava digitar o nome do moço no Google.
Daí que a notícia de hoje é de uma hipocrisia sem adjetivos:
“As denúncias contra o deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) ameaçam sua anunciada indicação para o comando do Ministério da Agricultura. O Palácio do Planalto vai pedir mais explicações ao PMDB e ao próprio Balbinotti sobre as investigações que estão sendo feitas contra ele, por falsidade ideológica, no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais auxiliares estão preocupados com os rumores de que estão para ser divulgadas novas denúncias contra Balbinotti.”
http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/16/pol-1.93.11.20070316.1.1.xml
Donde eu deduzo que mesmo sendo criminalmente responsabilizado por falsidade ideológica pelo Ministério Público de Mato Grosso em processo publicizado desde junho de 2006, se não tivesse havido a denúncia posterior à indicação, o moço seria empossado hoje.
Assim são os PACs. Toma-se recursos do orçamento, agregam-se obras não executadas anteriormente, e surge o Programa de Aceleração do Crescimento. Depois, reconhece-se o que organizações nacionais (IBGE) e internacionais vem demonstrando ano após ano sobre a baixa escolaridade e a péssima qualidade do ensino público brasileiro e cria-se o PAC-estudantil. Agora formaliza-se o PAC-político: Programa de Aceleração do Cinismo.